Os fracassos da extrema direita são um sucesso. Por Moisés Mendes

Atualizado em 29 de maio de 2024 às 21:45
O ex-presidente Jair Bolsonaro ao lado do coach Pablo Marçal. Reprodução

Os mais bravos bombeiros, entre os que salvaram o influencer e coach Pablo Marçal em São Paulo em 2021, ou resgataram pessoas ilhadas na tragédia das cheias em Porto Alegre, não se elegem vereadores. Mas Pablo Marçal é o terceiro nas pesquisas para prefeito de São Paulo.

Segundo o Instituto Atlas-Intel, Guilherme Boulos (PSOL) tem 37,2% das intenções de voto, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) está com 20,5% e o coach, que recém entrou na disputa, arranca com 10,4%, como candidato do PRTB.

Marçal (na foto com Bolsonaro) passou à frente de Tabata Amaral (PSB), com 9,9%; José Luiz Datena (PSDB), 7,9%; e Kim Kataguiri (União), com 7,9%. O sujeito é mais um fenômeno da extrema direita.

Nos textos que o apresentam, a primeira informação que aparece é sobre um fracasso. Marçal foi o coach que levou 32 pessoas a uma experiência de superação e as colocou em risco de morte. A turma subiu no Pico dos Marins, na Serra da Mantiqueira, em São Paulo, em janeiro de 2021.

O grupo foi surpreendido por uma tempestade e só foi salvo com a intervenção dos bombeiros. O coach queria provar que eles poderiam superar qualquer dificuldade. Foi exposto como irresponsável na TV, em jornais e na internet e ficou famoso pela expedição desastrada.

Ninguém sabe o nome de um, ao menos um, dos bombeiros que salvaram os pupilos de Marçal. Mas ele ficou famoso como o sujeito que atraiu um grupo para uma experiência que poderia ter sido mortal, se os bombeiros não tivessem aparecido a tempo.

Marçal se diz formado em Direito, investidor, empresário e escritor. É palestrante motivacional com mais de 10 milhões de seguidores. Já foi condenado por participação em uma quadrilha que desviava dinheiro de bancos.

Tudo na vida pessoal de Marçal, que poderia servir como exemplo, é um fracasso. Fracassou como estelionatário, como coach das montanhas e ao tentar ser candidato a presidente da República e, mais adiante, a deputado federal em 2022, por ter os registros negados pela Justiça Eleitoral.

Mas é um sucesso como coach. Foi salvo pelos bombeiros, não tem nada a mostrar como êxito excepcional ou mediano na sua carreira de influencer. Mas é um sucesso como influencer. Dizem que é milionário. Porque é um fenômeno como ganhador de dinheiro.

Como é possível? Um sujeito que fracassa ao induzir incautos a uma aventura, que já participou de quadrilhas e que não tem nada a mostrar como referência de sucesso, esse sujeito é um sucesso?

E os bombeiros que o salvaram lá no pico, em meio a uma tempestade, e o livraram de ser responsável pela morte de aventureiros em busca de superação?

Os bravos bombeiros só teriam sucesso se virassem influencers e ficassem ricos por mostrar, ao invés de atos de valentia, os fracassos acumulados na carreira.

Muitos dos salvos na tempestade devem ser eleitores de Pablo Marçal, que é da mesma turma de Bolsonaro. O tenente que fracassou como militar, arquitetou um plano terrorista contra o Exército, foi corrido das Forças Armadas e se elegeu presidente da República para mandar em generais.

No Brasil, se o sujeito for de extrema direita, o fracasso será quase sempre um sucesso. O Congresso está cheio desse tipo de gente.

Originalmente publicado no blog do autor

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