Por Fernando Brito
Enquanto os brasileiros torciam e comemoravam, hoje, a estreia vitoriosa do Brasil na Copa do Mundo de futebol, Jair Bolsonaro promovia uma soturna reunião com os comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica.
Ao contrário da alegria de jogadores e torcedores, o que dominou o encontro foi o inconformismo dos derrotados, porque é completamente descabido que o ainda presidente da República fosse envolver-se justamente com o setor do governo que menos precisa de atenção e, pior, cuidar de produzir um “comício” pós-eleitoral para que apareça sendo saudado por centenas de aspirantes a oficial da Academia Militar das Agulhas Negras, e com uma penca de generais a lhe prestarem continência.
Não, não vai dar “zebra” no jogo democrático, nem virada no “tapetão” para mudar o resultado das eleições, embora o presidente mantenha diante dos generais sua negação das urnas.
O que haverá é, apenas, a vergonha para nossas Forças Armadas de se prestarem ao papel que lhes é traçado numa pantomima copiada e comandada de foram, pelo trumpismo, como revela hoje reportagem do The Washington Post, relatando os aconselhamento que o filho-chapeiro Eduardo Bolsonaro foi conspirar com o ideólogo Steve Bannon e o ex-porta-voz e hoje executivo de Donald Trump, Jason Miller.
Estão se colocando, em outra esfera, em posição ridícula que lembra muito o que Jair Bolsonaro está fazendo com Valdemar da Costa Neto: desmoralizados publicamente como agentes de um inconformismo eleitoral que é incompatível com pessoas investidas de responsabilidades públicas.
“Generais Valdemar” é, positivamente, um alcunha que ninguém merece. Mas assim ficarão se, em lugar de seus deveres de preservar suas corporações, dedicarem-se a bajular um homem que não é capaz de pensar senão em si e que não aceita a ordem de ir se embora, que lhe foi dada pela autoridade suprema de uma Nação, o voto de seus cidadãos.
Não se reclame, depois, que as Forças Armadas sejam afetadas por uma suspeita de representarem não uma instituição de Estado, mas de serem uma ameaça ao próprio Estado de Democrático de Direito e que se dissolva – como está se dissolvendo com a indisfarçada simpatia aos atos golpistas que o bolsonarismo agônico promove – a confiança que o país lhes têm.