Evidentemente que sim — mas os conservadores americanos estão tentando catalogá-los de outra maneira.
Os atentados em Boston trouxeram à tona, entre outras coisas, o racismo. Primeiro foi a prece dos muçulmanos para que os autores não fossem muçulmanos. Depois foi a torcida, por parte da mídia mais progressista, para que eles fossem brancos e americanos. O colunista David Sirota, da Salon, esperava que, com isso, o preconceito de alguma maneira fosse contido.
Bem, quando surgiram as fotos dos irmãos Tsarnaev, a reação dos conservadores foi a esperada: não, eles não eram “americanos brancos”. Eram imigrantes islâmicos, portanto de outra raça.
Opa.
Tamerlan e Dzhokhar são óbvia e espetacularmente brancos. Aliás, sua origem é o Cáucaso. São, portanto, caucasianos. Caucasianos puro sangue, se você quiser.
A guerra ao terror criou este novo paradigma num país até pouco tempo segregado: muçulmano não é apenas quem professa a religião, mas obrigatoriamente alguém que não é branco. Depois do 11 de setembro, a imagem do terrorista árabe barbudo e de pele escura, queimada no sol do deserto, se cristalizou. Uma das razões das teorias conspiratórias segundo as quais Obama era muçulmano vinha da cor de sua pele. Em dezembro, quando um americano de origem hindu foi empurrado no metrô e morreu atropelado por um trem, a autora do crime disse que “odiava hindus e muçulmanos desde 2001”. Surgiu até um apelido para eles: sand niggers.
Dzhokhar Tsarnaev, o suspeito sobrevivente é, de certa forma, um nó na cabeça dos racistas. Segundo todos os que o conheceram, e como ele mesmo mostrou de maneira límpida em seu Twitter, era um típico american boy: gostava de rap, carros, maconha, garotas. Não vestia jalaba, mas o uniforme de sua geração: moletom e boné.
Os Tsarnaev fogem do estereótipo do islamita fanático, do sand nigger, e são um espelho incômodo para grande parte dos americanos. Como disse a jornalista Joan Walsh: “Nós ainda não sabemos tanto a respeito dos irmãos Tsarnaev, mas eles parecem ter mais em comum com outros assassinos em massa dos Estados Unidos do que com terroristas da Al Qaeda de qualquer raça ou etnia. Apesar da persistência do racismo e da ‘vantagem dos brancos’, essas linhas estão começando a se desintegrar em nossa sociedade cada vez mais mestiça e multirracial – mas os conservadores vão tentar policiar essas linhas quanto tempo puderem”.