Escolha a manchete dos jornalões brasileiros, logo depois da eleição de Javier Milei, e tente medir o cinismo de cada um.
Esta é a manchete do Globo:
Ultradireitista Milei é eleito presidente da Argentina em eleição histórica.
Esta é a da Folha:
Ultraliberal Javier Milei rompe polarização e é eleito presidente.
E esta é a manchete do Estadão:
Javier Milei é eleito presidente da Argentina com vantagem histórica.
Um detalhe importante. A manchete do Globo é a primeira de um jornalão brasileiro chamando Milei de ultradireitista. Até agora ele era apenas ultraliberal para os três. Ultraliberal é o Paulo Guedes. Milei é um fascistão.
Os dois grandes jornais argentinos de direita, El Clarín e La Nación, definem o sujeito como ultraliberal, num truque que o enquadra apenas pelas questões econômicas e de costumes.
Ele seria ultraliberal, e não de extrema direita, por defender, por exemplo, a venda de órgãos humanos para transplantes. Seria uma posição liberal, mais do que extremista.
A definição certa
Finalmente um jornalão dá na capa a definição que vinham se negando a dar ao argentino eleito ontem:
Esta é a manchete que a grande imprensa vinha evitando e pode ser lida hoje:
“Argentina elege Javier Milei em vitória da extrema direita”
Finalmente um jornalão define o sujeito como sendo de extrema direita.
Mas não comemorem. Não é um jornalão brasileiro. É o The New York Times.
A manchete em inglês está assim:
“Argentina elects Javier Milei in victory for far right”
A Folha cuidadosa
Vamos lembrar que, em outubro de 2018, pouco antes da eleição, a então ombudsman da Folha, Paula Cesarino Costa, escreveu o seguinte:
“No início de outubro, dois meses após a campanha estar oficialmente nas ruas, a Secretaria de Redação da Folha distribuiu comunicado interno em que afirma não haver, na atual disputa eleitoral brasileira, nenhuma candidatura que se enquadre na categoria de “extrema direita” ou “extrema esquerda”. O texto lembra o verbete “Qualificação ideológica” do Manual da Redação, que reserva o uso desses termos para designar “facções que praticam ou pregam a violência como método político”. Orienta a Redação a tratar Jair Bolsonaro, do PSL, como candidato de direita. Assim como Guilherme Boulos, candidato derrotado do PSOL, deveria ser considerado de esquerda”.
Entenderam? A Folha tentou tornar equivalentes, para confrontar suas posições em polos opostos, Bolsonaro e Boulos.
E continuava o texto da ombudsman:
“Os principais jornais do mundo, de inegável qualidade, usam variações do conceito de extrema direita (far right, ultraderecha, extrême droite) para definir a candidatura de Bolsonaro. São eles: The Economist, Financial Times, The Guardian, El País, The New York Times, The Washington Post, Le Monde, Clarín e La Nacion, entre outros”.
Até hoje, para a Folha e todos os jornalões brasileiros, Bolsonaro não é de extrema direita, assim como Javier Milei.
O Globo chega ao seu limite na definição de ultradireita, que é um modo fofo de tentar enquadrar o sujeito sem ficar mal com o fascismo.
A ombudsman esclareceu o seguinte:
“O editor-executivo da Folha, Sérgio Dávila, afirmou que a Folha não classifica nenhum líder atualmente no poder de extrema esquerda ou extrema direita”.
Mas para Folha, Globo e Estadão, Nicolas Maduro é um ditador.
Publicado originalmente no Blog do Moisés Mendes
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