Originalmente publicado em JORNALISTAS PELA DEMOCRACIA
Por Moisés Mendes
Fazia tempo que não se via o que há de mais belo e inspirador numa multidão lutando por alguma coisa. Nada é mais bonito na política do que uma multidão de jovens. E eles jovens reapareceram em enxames nesse sábado em todo o Brasil.
O centro de Porto Alegre talvez tenha visto tantos jovens pela última vez no comício de Fernando Haddad, em setembro de 2018, ou no ato pelo primeiro ano do assassinato de Marielle, em março de 2019.
Mas antes eram jovens misturados, quase meio a meio, ao pessoal mais maduro que sempre aparece em manifestações das esquerdas. Agora, não. Agora eles foram maioria absoluta entre milhares, talvez mais de 30 mil. Não menos do que 30 mil.
O ato contra Bolsonaro e o genocídio pode ter trazido para a frente da prefeitura gente que nunca participou de uma manifestação política. Tenho certeza de que vi meninas que, quando do golpe contra Dilma, em agosto de 2016, deveriam ter pouco mais de 10 anos.
Vi uma adolescente que, ao notar minha intenção de fotografá-la na turma em que estava, gritou para a senhora ao lado:
– Olha ali, vó.
Netas e avós. Mulheres, mulheres, mulheres. E homens acompanhando mulheres. Filhas e mães, irmãs, primas, amigas, namoradas. Elas eram maioria entre todos, e não só entre os jovens.
As mulheres sempre foram maioria nas manifestações no Chile. Elas quase sempre aparecem à frente nas fotos feitas na Colômbia, onde agregaram à batalha política contra o governo a luta contra a violência do machismo.
Na Argentina, elas revigoraram as manifestações de rua com seus lenços verdes pelo direito de ser mulher em quaisquer circunstâncias. As mulheres argentinas tornaram invencível a resistência contra a ditadura.
E em Porto Alegre são elas que agora devolvem o povo aos largos do centro da cidade, tão desacostumados de ajuntamentos pela democracia.
Jovens mulheres que estão estreando nas ruas, mulheres avós que brigaram contra a ditadura, mulheres maduras que enfrentaram o golpe contra Dilma e agora tentam derrubar o fascismo genocida. Foi um sábado de jovens e de mulheres.
Quem se virasse, para qualquer lado, para tirar uma foto ou espiar os grupos que se formavam, fotograva mulheres no centro de Porto Alegre.
Foi um ensaio de luxo para algo que deve acontecer logo mais adiante, talvez ainda não tão grandioso, nem tão impactante, mas política e moralmente edificante. Se os jovens perseverarem, as ruas podem derrubar Bolsonaro.
O Brasil precisava de um sábado como esse, jovem, feminino, atrevido, desafiador de medos em meio a uma pandemia.
Os jovens andavam sumidos, mas uma hora eles reaparecem. Só eles sabem a hora certa de mostrar a cara. São eles e elas que passam a nos guiar nas ruas para o que ainda está por vir.