A mais nova trapalhada da grife Reserva, que pendurou manequins pretos de ponta-cabeça na vitrine de uma das suas lojas, é só mais uma entre as inúmeras gafes ou ofensas racistas promovidas por empresas do mundo da moda.
São tantas que até parecem elemento fundamental neste universo. Como as disputas de egos, o culto a padrões estéticos eurocêntricos e os preços exorbitantes das criações.
O baile “africano” da revista Vogue, promovido no final do mês passado, é um exemplo de que não é apenas a equipe da grife carioca que precisa de umas lições sobre diversidade. A festa esbanjou estereótipos sobre o continente africano, como se a cultura local se resumisse às estampas de zebra, penteados dreadlocks ou turbantes usados pelos convidados, a maioria brancos.
A inspiração do baile remete à última coleção da grife Valentino. A criações foram foram inspiradas na África, mas a composição étnica do desfile mostrou um dos problemas mais graves e ao mesmo tempo corriqueiro do mundo da moda: dos 89 looks da apresentação da coleção primavera/verão 2016, só 8 foram usados por modelos negras.
Apesar de sérias, essas polêmicas parecem picuinhas entre aprendizes de estilistas quando comparadas à história da Hugo Boss, que lucrou uma boa grana produzindo uniformes nazistas com mão de obra escrava de campos de concentração.
Os nazistas foram derrotados há décadas, mesmo assim teve empresa de moda que até pouco tempo atrás lucrou com o trabalho forçado. A Zara foi acusada de usar mão de obra análoga a escrava em fábricas terceirizadas no Brasil e na Argentina.
Esta não é a única mancha na história da grife espanhola, que tem quem uma bolsa com desenho de suástica e uma camiseta semelhante ao uniforme dos judeus nos campos de concentração no portfólio de ofensas.
Fica difícil, para a empresa, dar a desculpa do “mal-entendido” quando existe contra ela um processo de 40 milhões de dólares por discriminação racial e de orientação sexual aplicado pelo executivo de primeiro escalão Jack Miller. Gay e judeu, ele alegou sofrer bullying dos outros executivos por causa da religião e da orientação sexual.
Segundo a Forbes, o processo relata que executivos da Zara trocavam e-mails jocosos mostrando Barack Obama com chapéu da Ku Klux Klan e a primeira dama Michelle Obama servindo frango frito.
O mesmo antissemitismo que pode tirar alguns milhões do grupo espanhol defenestrou o estilista britânico John Galliano da grife Dior. Em 2011, ele foi flagrado em um restaurante proferindo um discurso no qual dizia que amava Hitler.
A aversão da Abercrombie por clientes considerados acima do peso e as modelos com palha de aço na cabeça no desfile de Ronaldo Fraga são mais dois exemplos de que essas ocorrências de preconceito não são “casos isolados”, como as empresas costumam responder mecanicamente ao se defender.
Eles deixam a impressão de que a regra no mundinho da moda é ignorar completamente fatos históricos como o holocausto, a escravidão negra e a luta pela igualdade entre os sexos.
No máximo usam como inspiração estética, com resultados mais desastrosos que a combinação de calça bag lilás com jaqueta de lantejoulas douradas.