Logo depois da classificação da Argentina para as semifinais da Copa do Mundo, em um épico contra a Holanda, escrevi um tuite na minha conta pessoal que falava que haviam juntado um punhado de psicopatas rodeando um gênio. E que a fórmula era muito parecida com 1986, quando Diego Maradona fez chover na segunda conquista dos nossos vizinhos, no México.
Juntaram um bando de psicopatas rodeando um gênio.
A Argentina em 1986 ganhou uma Copa assim https://t.co/AVJJh2YQKn
— Luan Araujo (@luanaraujo90) December 9, 2022
O elenco de malucos da Argentina deste ano, formado por gente como o goleiro fanfarrão e pegador de pênaltis Emiliano Martínez, o zagueiro pouco afeito a gentilezas Nicolás Otamendi e o meia tão bom quanto desbocado Rodrigo De Paul, ajudou Lionel Messi na conquista do tricampeonato albiceleste. Mas o que o elenco, acima de tudo, tinha era uma alma que os argentinos apreciam muito. Da tendência ao drama, até a famosa catimba e provocação aos adversários.
Essa característica foi falada por Cesar Luís Menotti, técnico do primeiro título argentino, na controversa Copa de 1978, e atual diretor de seleções da Associação de Futebol da Argentina (AFA), quando confirmou o então interino Lionel Scaloni como técnico principal da seleção, em janeiro de 2019.
25 de enero de 2019, conferencia de presentación de Menotti como director de selecciones de la AFA. Antes de que los periodistas pregunten, arranca. Y dice esto acerca de Scaloni y la selección argentina. Respeto. pic.twitter.com/18D9v0h5kM
— Roberto Parrottino (@rparrottino) December 19, 2022
Menotti, aliás, é um personagem riquíssimo. Antes peronista, se filiou ao Partido Comunista da Argentina pouco antes do golpe militar que atingiu o país em 1976. Como técnico da albiceleste, buscou afastar seus jogadores do uso político do Mundial que o país sediaria dois anos depois.
Sem vencer a Copa do Mundo desde 2002, a Seleção Brasileira passa por uma crise de identidade talvez sem precedentes e os motivos são vários. São políticos, com o claro sequestro da camisa amarela, antes sinônimo de brasilidade mundo afora, pela extrema-direita que destruiu o País na última década. E também por um claro afastamento dos atletas que envergaram essa camisa nos últimos anos dos anseios e das características do país: a alegria, a humildade e a simplicidade para tratar a vida e o jogo.
Mas querem uma boa notícia? Essa Copa do Mundo, em que o Brasil caiu nas quartas de final, nos apresentou gente com essa capacidade de cativar e trazer novamente o amor do povão pela Canarinho.
Aprendemos a gostar mais de figuras como Richarlison, tão preocupado com questões sensíveis para nosso povo e um ótimo atacante. Vinícius Jr., menino de sorriso cativante e muito futebol, nos encantou nas últimas duas temporadas no futebol europeu e merece mais chances, assim como seu companheiro de Real Madrid, Rodrygo, que infelizmente perdeu o primeiro pênalti que Neymar não quis bater contra a Croácia.
Aqui no Brasil, nós vemos surgir alguém muito especial. Com apenas 16 anos, o palmeirense Endrick cativa do mais fanático alviverde até eu, corinthiano dos mais fiéis. Sua história de vida e sua cabeça boa impressionam tanto quanto a bola que joga. Quando completar 18 anos, em 2024, ele fará companhia para Vinícius e Rodrygo na Espanha.
Todos esses meninos terão três anos e meio para nos cativar ainda mais. E eles têm essa capacidade. Lideranças desgastadas e pouco simpáticas, como Daniel Alves e Thiago Silva, disputaram seus últimos mundiais. Está na hora de uma molecada alegre, feliz e com brasilidade tomar naturalmente essa liderança. O que resta é saber se Neymar, que não é mais menino há muito tempo, nunca passou um indício de identificação com seu povo e que terá 34 anos em 2026, estará nessa engrenagem e, se estiver, será uma liderança positiva. Sinceramente, eu duvido que consiga.
Aqui, a nossa missão (e essa começa em janeiro de 2023) é recuperar a camisa tomada pelo grupo político que nos atormentou por quase uma década. A batalha será árdua, mas é possível vencer.
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