Acabo de escrever um artigo para uma futura edição da revista Viagem & Turismo sobre os táxis no mundo. Meu ponto é que você conhece um povo por seus motoristas de táxi. Gostaria de compartilhar aqui um trecho do artigo:
Não entendi direito quando vi meu filho Pedro apanhar o iPhone no black cab que nos trazia de Picaddilly para casa, em Fulham, em Londres. Era uma noite fria e molhada de inverno. Não ganháramos tanto assim no Empire, o cassino em Leicester Square em que jogáramos Texas Hold’em, mas o lucro fora suficiente para voltarmos de táxi e não de metrô ou de ônibus, como de hábito.
Pedro simplesmente adora o black cab, com sua aparência de carro antigo e o espaço dos passageiros em que você pode fazer uma reunião com alguém, com os bancos em que uma pessoa pode ficar de frente para a outra ou para as outras. Eu brinco dizendo que as mãos de Pedro se levantam automaticamente em sinal de chamada quando vê um black cab.
Mas naquele começo de madrugada ele estava desconfortável, claramente.
Não quis que eu deixasse gorjeta ao chegarmos, ele que é um jovem generoso. Depois me contou a razão. Com o GPS de seu celular, ele verificou que o motorista dera uma volta desnecessária. Nos enrolara, em suma.
Que os ciganos que dominam a praça de Praga façam isso, tudo bem. Mas os legendários black cabs, um símbolo de Londres tão forte quanto o Big Ben, a Harrod’s e os Double Deckers?
Sim. Até eles. O mesmo trajeto um outro dia, sem enrolações, provaria.
A conclusão é que os britânicos enfrentam uma crise de valores. Você até aceita que políticos sejam pilhados reembolsando com dinheiro do contribuinte despesas como a construção de uma casa para patos ou a afinação de piano ou até o aluguel de fitas pornográficas, como aconteceu recentemente na Inglaterra.
Mas um black cab dar voltas desnecessárias?
O que aconteceu com a Inglaterra?