Os objetos furtados são devolvidos. E daí? Por Moisés Mendes

Atualizado em 25 de março de 2023 às 10:25
Joias dadas de presente por autoridades sauditas a comitiva brasileira e que ficaram com Bolsonaro – Foto: Reprodução

Nunca antes na história da República (e nem da monarquia) o Brasil havia tido um presidente que confessou publicamente sentir atração e ser tomado por um clima diante de uma criança de 14 anos.

O Brasil teve esse presidente, até o final do ano passado. E teve agora um ex-presidente que, com outro fato inédito, devolveu joias que havia furtado ao deixar o governo.

Bens do Estado, que deveriam ter sido incorporados ao patrimônio público, estavam com ele como se dele fossem.

O presidente que se sentiu atraído por uma criança e o presidente que furtou as joias são a mesma pessoa.

Seria inacreditável, como ficção, que esse sujeito pudesse ter feito tudo o que fez. E que agora tenha enviado um advogado de terno e gravata para devolver as joias, cumprindo ordens do TCU.

A cena foi vista nessa sexta-feira na TV. O emissário do sujeito entrou numa agência da Caixa em Brasília, levando uma pasta com as joias enviadas como presente ao governo pelas máfias de príncipes cruéis da Arábia Saudita.

Um estojo com um relógio, um de abotoaduras, uma caneta rosa, um anel e um masbaha, uma espécie de rosário islâmico.

Só o relógio, um Chopard L.U.C Tourbillon Qualité Fleurier, é de ouro e custa R$ 800 mil. Mafiosos, jogadores de futebol e novos ricos gostam de relógios, por ser um ornamento de ostentação, sempre à vista.

Bolsonaro pode ter usado o relógio quando foi às compras em mercadinhos de Orlando. Pode ter exibido o relógio comendo frango frito. Não vai mais usá-lo.

Esse que ele havia roubado (o termo correto é furtado, mas roubado fica melhor nesse caso) era de uma edição de apenas 25 exemplares.

E aí vem a pergunta elementar: se alguém tenta roubar algo, mesmo que não consiga, é investigado, julgado e, se for culpado, condenado.

Condenam até mães miseráveis que furtam um pacote de massa Miojo. Bolsonaro conseguiu levar a joia e só foi descoberto porque um outro lote havia ficado retido no aeroporto.

Se aquela outra caixa com um colar e brincos não tivesse sido flagrada, hoje Bolsonaro e Michelle estariam cheios de joias e com aquele cavalo de ouro com as pernas quebradas.

Tenha certeza de que não acontecerá nada com o ladrão das joias das arábias.

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Pedro Cardoso chuta o balde e a vaca na CNN:

Publicado originalmente em Blog do Moisés Mendes

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