Ex-funcionários e aliados do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump lançaram um documento, com mais de 900 páginas, intitulado “Projeto 2025” para estabelecer quais devem ser as novas políticas adotadas no país após as eleições. O material tem causado polêmica ao descrever medidas drásticas para reformular o Estado e alinhar os EUA à agenda de extrema-direita.
Segundo Jamil Chade, do Uol, os idealizadores defendem que a proposta serviria de base para um possível novo governo Trump. Entre as mudanças sugeridas estão a centralização de poder no Executivo, a censura a discussões sobre temas sociais nas escolas e o endurecimento das políticas migratórias.
O projeto teve início em 2022, quando a Heritage Foundation, organização ultraconservadora, uniu mais de cem instituições para delinear uma visão de governo “patriótica e cristã”. Entre as entidades participantes, algumas possuem históricos de campanhas contra direitos LGBTQI+ e direitos reprodutivos, e mantêm relação estreita com movimentos de extrema direita em outros países, incluindo o Brasil.
Russell Vought, uma das principais figuras do projeto e autodeclarado “nacionalista cristão”, é responsável por estruturar ordens executivas e regulamentos que permitiriam ações rápidas em um novo governo de direita. A vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, chamou atenção para a proposta, alertando que, apesar de Trump afirmar que não está diretamente envolvido, o projeto reflete uma plataforma de governo autoritária.
O Projeto 2025 é ambicioso e inclui censura a discussões sobre raça e gênero nas salas de aula, corte de financiamento federal para escolas com currículos progressistas e até o fechamento do Departamento de Educação. “O objetivo é proteger as crianças de uma ‘doutrinação política'”, afirma o documento.
O plano propõe que pais possam ter total controle sobre o conteúdo escolar e prevê a proibição de materiais considerados “impróprios” por grupos ultraconservadores, além de banir termos como “orientação sexual” e “direitos reprodutivos” de qualquer lei federal.
Além disso, o documento sugere uma definição de casamento e família com base na Bíblia, restringindo direitos de pessoas transgênero e limitando programas de apoio a famílias que não sigam um modelo heterossexual tradicional. “Todas as outras formas de família envolvem níveis mais altos de instabilidade (…), pobreza; ou resultados comportamentais, psicológicos ou educacionais piores”, afirma o documento.
O projeto prevê ainda limitar o direito ao aborto em todo o país, incluindo o banimento do medicamento mifepristona e o restabelecimento da antiga Lei Comstock para proibir o envio de materiais relacionados ao aborto pelo correio. O texto fala em criar um banco de dados nacional para monitoramento de gravidezes, o que levou Kamala Harris a criticar a proposta como “um sistema de vigilância estatal sobre o corpo das mulheres”.
Na questão da imigração, o Projeto 2025 defende deportações em massa, o fim da cidadania por nascimento e a suspensão do sistema de asilo. A proposta visa ampliar a construção do muro na fronteira com o México e restringir vistos para vítimas de crimes e tráfico humano, além de tornar mais caras as taxas administrativas para imigrantes.
Para consolidar o poder presidencial, o documento sugere mudanças que esvaziariam a autonomia de agências estatais, incluindo o FBI. Segundo os autores, é preciso reformular o Departamento de Justiça e limitar as investigações sobre desinformação, que, segundo eles, “minam o interesse nacional”.
Além de propor uma redução da participação do Congresso no processo de nomeação de funcionários públicos, a iniciativa prevê que o presidente indique funcionários interinos para cargos importantes, o que dispensaria a necessidade de aprovação pelo Senado. De acordo com o Centro para o Progresso Americano, um think tank progressista, essas mudanças tornariam o sistema de freios e contrapesos praticamente inoperante.
“Se o Congresso for privado de seu papel imperativo de controle e equilíbrio do poder do presidente, e o Poder Judiciário estiver disposto a conceder ao presidente uma autoridade quase ilimitada, o resultado será a autocracia”, alertam membros do Centro.
Segundo a entidade, o Projeto 2025 representa uma “ameaça existencial” à democracia americana, colocando o país em um caminho semelhante ao de autocracias contemporâneas como a Hungria e a Turquia.
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