Os senadores deveriam agradecer ao Nobel da Paz por dizer-lhes a verdade sobre o que estão fazendo. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 28 de abril de 2016 às 17:31
Esquivel
Esquivel

 

O Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel deu um corretivo moral no Senado em seu contundente recado sobre o impeachment na quinta, dia 28.

Ajudou a desmoralizar mais ainda o golpe bem na casa onde ele está ocorrendo. O Brasil virou uma piada trágica graças a um grupo de pilantras que é desmascarado dia a dia.

A reação dos senadores da oposição é sintomática e reveladora. Nenhum deles, estranhamente, falou nada depois que Jair Bolsonaro homenageou um torturador homicida na Câmara.

Com Esquivel, em compensação, viraram machos. O senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO) chamou a cena de “inaceitável”. “Estou indignado com o que aconteceu neste parlamento”, gritou.

Pediu ao presidente da sessão, Paulo Paim, do PT-RS, que retirasse o discurso das ata taquigráficas da sessão.

Ronaldo Caiado, o sujeito que aparece em passeatas com camisetas com nove dedos sujos de petróleo e que mentiu sobre a existência de um vídeo de um suposto ataque de milícias chavistas na Venezuela, acusou uma “montagem”.

“Foi premeditado. Não foi por acaso que este senhor veio aqui fazer esse pronunciamento. Isso é uma estratégia que este plenário não admite”, afirmou.

Cássio Cunha Lima foi contra a concessão de palavra ao Nobel da Paz, que “não é detentor de mandato”.

Esquivel estivera, pela manhã, com Dilma no Palácio do Planalto. Fora prestar sua solidariedade em razão do impeachment. Após o encontro, salientou que está “muito claro” que está em curso um “golpe de estado, encoberto sobre o que podemos chamar de golpe branco”.

Reiterou sua posição no Senado a convite de Paim.

Foi sucinto: “Venho ao Brasil trazendo a solidariedade e o apoio de muita gente na América Latina para que se respeite a continuidade da constituição e do direito do povo de viver em democracia. Há grandes dificuldades de um golpe de Estado, que já aconteceu em outros países do continente, como Honduras e Paraguai. Espero que saia o melhor deste recinto para o bem da democracia e da vida do povo do Brasil”.

O argentino Esquivel recebeu o Nobel em 1980 por seu trabalho como coordenador, nos anos 70, da fundação do Servicio Paz y Justicia en América Latina em Medellín, na Colômbia. Advogava a resistência às ditaduras sul americanas através da “não-violência ativa”.

O esperneio da direita com o convidado é de uma hipocrisia abismal. Há duas semanas, Eduardo Cunha e seus capangas deram crachás para Kim Kataguiri e Renan Haas, “líderes” do MBL, circularem pelo Salão Verde às vésperas da votação do impedimento na Câmara.

Ao contrário dos dois pequenos fascistas, porém, Esquivel é respeitado e tem autoridade. Sua atitude já está repercutindo no exterior.

Nossos políticos profissionais querem o monopólio da destruição da imagem da democracia brasileira. Adolfo Pérez Esquivel veio confirmar o que fazem. Deveriam agradecer-lhe pela deferência.