Osmar Dias renuncia à candidatura ao governo do Paraná, amplia crise no PDT e escancara a falta que Brizola faz

Atualizado em 3 de agosto de 2018 às 20:05
Osmar Dias e Leonel Brizola

O PDT está em crise no Paraná. Depois que não chegou a acordo com o MDB de Roberto Requião, Osmar Dias renunciou hoje à candidatura ao governo do Estado.

Em carta, lamenta que a política seja um jogo dominado por sentimentos e paixões negativas como vaidade, inveja, pensamento medíocre.

Osmar Dias está na política há muito tempo. Foi senador da república, é irmão de Álvaro Dias, do Podemos. Será que nunca percebeu que os políticos convivem desde sempre com a vaidade, a inveja e o pensamento medíocre? Leia a carta:

COMUNICADO AOS PARANAENSES

Reorganizar o Estado, acabar com o loteamento de cargos, romper com um modelo de governo em que impera o compadrio, a nomeação de pessoas sem qualificação, sem capacidade, libertá-lo dos vícios do patrimonialismo e combater com rigor a corrupção que contaminou as instituições públicas, recuperando o respeito e a confiança da população nas autoridades.

Coragem e determinação para isso foi o que demonstrei em toda minha caminhada.

Durante meses a fio lutei incansavelmente para construir uma frente política que não me deixasse só numa batalha desejada por toda a sociedade.

Encontrei muita gente, nas ruas e nas estradas, sintonizadas com essas ideias, exigindo que as mudanças sejam feitas para não permitirmos que o Paraná e o Brasil sejam empurrados para uma crise ainda mais profunda.

Mas percebi que o sistema político sem reformas não aceita na prática o discurso de mudança que todos os políticos pregam em época de eleição.

Por ingenuidade ou excesso de confiança acreditei que como eu os políticos de todos os partidos haviam compreendido o momento grave que estamos vivendo.

Não cedo jamais em valores e princípios. Aceito discutir e construir alianças políticas que sejam para atender o interesse público. Mas não negocio com o interesse público, não faço acertos perniciosos à sociedade para contemplar pessoas ou grupos políticos que não medem consequências nem custos para ter o poder e repartir suas benesses com amigos e parentes.

Não agrido minha consciência em troca de tempo de TV, ou de apoio com base em barganhas escusas ou apoios hipócritas.

Política não pode ser um jogo dominado por sentimentos e paixões negativas como vaidade, inveja, pensamento medíocre.

Não aceito fazer parte disso!

Prefiro preservar minha história de trabalho e ter dignidade e respeito à minha família e amigos e às pessoas que verdadeiramente gostam e acreditam em mim.

Por isso, comunico que não disputarei as eleições em 2018.

Peço a compreensão e o apoio a essa difícil decisão que é definitiva.

Agradeço sinceramente o carinho que sempre recebi dos paranaenses e, peço que Deus nos conceda suas bênçãos para que tenhamos um futuro melhor para o nosso Paraná.

Osmar Dias”

A desistência de Osmar Dias, que era próximo do campo progressista no Paraná, facilita a disputa para dois candidatos que representam a continuidade do governo de Beto Richa: Cida Borgheti, ex-vice, atual governadora, e Ratinho Júnior.

No PDT, os candidatos a deputado estão desorientados.

Ex-militante estudantil, advogado de causas ligadas aos direitos da cidania, dirigente da Ferroeste e assessor parlamentar de Requião, Samuel Gomes, pré-candidato a deputado federal, enviou carta ao presidente nacional do partido, Carlos Luppi, em que relata o estado de desorganização do partido:

“O PDT no Paraná está engolfado em uma balbúrdia, um caos, um descontrole, em que a vida e os destinos do Partido são deixados de lado em favor de um maçante pastelão, de uma anacrônica espiral de supostos desencontros emocionais no interior de uma família, em que dois irmãos acusam-se mutuamente de serem Caim. Nada mais vexatório para o Partido de Brizola, o partido herdeiro da Revolução de 30. Nada menos ideológico, nada menos político, nada menos getulista, nada menos trabalhista, nada menos brizolista, nada menos republicano”, escreveu.

A convenção do partido está marcada para amanhã, e os candidatos a deputado não sabem se marcharão unidos ao Podemos, de Álvaro Dias, ligado à Lava Jato, ou com o próprio MDB, em apoio à candidatura de João Arruda, sobrinho de Roberto Requião.

Um quadro que desperta perplexidade, já que o PDT sempre teve força no Paraná, desde que Leonel Brizola escolheu voltar do exílio em um avião que pousou em Foz de Iguaçu, um gesto simbólico que significou o plantio de uma semente no Estado.

De Foz de Iguaçu, onde recebeu políticos remanescentes do trabalhismo de Getúlio Vargas, Brizola se dirigiu para o Rio Grande do Sul, onde anunciou que voltava para refundar o PTB — não deu, porque Ivete Vargas, sobrinha de Getúlio, alinhada ao general Golbery do Couto e Silva, ficou com a legenda.

Com isso, a alma do trabalhismo migrou para o PDT, que, no Paraná, mostrou sua força com a eleição de Jaime Lerner prefeito de Curitiba, depois governador do Estado. Até 2016, a capital paranaense era governada por Gustavo Fruet, hoje cotado para vice de Ciro Gomes.

Pelo que se vê, no Paraná, o PDT fez escolhas erradas e agora paga o preço. Corre o risco de ser engolido por um Ratinho.