Otan amplia para o Japão e avança cerco à China. Por Cezar Xavier

Atualizado em 6 de junho de 2023 às 11:29
Ministro das Relações Exteriores do Japão, Yoshimasa Hayashi, durante reunião dos chanceleres do G7, anuncia abertura de escritório da OTAN no país asiático. (Foto: Reprodução)

Por Cezar Xavier

A nova Guerra Fria amplia rapidamente seus tentáculos na Ásia, conforme saiu o anúncio de que o Japão pretende abrir um “escritório de ligação” com a Otan, a poderosa aliança militar encabeçada pelos Estados Unidos e países europeus. Assim, acirra-se o conflito político-econômico entre os blocos de países ocidentais (Estados Unidos, Canadá e União Europeia) e a dupla China-Rússia, que já se deteriora sensivelmente desde a guerra na Ucrânia.

Agora, a delicada questão de Taiwan, território tradicional chinês sob governo autônomo, é o álibi para uma contenção do poderio econômico chinês e a manutenção da influência imperialista dos EUA.

“Já estamos em discussões, mas nenhum detalhe foi finalizado ainda”, disse o ministro das Relações Exteriores japonês, Yoshimasa Hayashi, pouco antes da cúpula do G7 em Hiroshima. “A razão pela qual estamos discutindo sobre isso é que, desde a agressão da Rússia à Ucrânia, o mundo se tornou mais instável”, disse ele.

Embora negue más intenções em relação a algum país, o chanceler japonês insinuou evasivas. “Não estamos ofendendo ninguém, estamos nos defendendo de qualquer tipo de interferência e preocupações e, em alguns casos, ameaças”, disse.

O chanceler acrescentou que o Japão não é um membro do tratado da Otan, que significa Organização do Tratado do Atlântico Norte – mas que o movimento envia uma mensagem de que os parceiros do bloco na Ásia-Pacífico estão “se engajando de maneira muito constante” com a Otan.

Caso se concretize, será a primeira vez que a OTAN teria braços instalados na Ásia, para além da sua área de influência atlântica previamente determinada. Mas a invasão da Ucrânia pela Rússia foi o estopim para todo um realinhamento militar, com vários países reforçando suas defesas para o caso de um conflito. Suécia e Finlândia abandonaram sua neutralidade militar e também pedem proteção da OTAN.

Nas últimas duas décadas, a influência chinesa também atravessou oceanos, não com militares ou armas, mas pelo o financiamento em infraestrutura em diversos países em desenvolvimento na América Latina e Ásia, mas, principalmente na África. Também criou laços com países insulares no pacífico, região que tem sido negligenciada pela influência dos Estados Unidos nos últimos anos.

No entanto, a hostilidade aberta dos governos americanos não é ignorada pela China, segundo país com mais gastos anuais em defesa, atrás somente dos Estados Unidos. O gigante asiático ampliou sua carteira de ogivas nucleares, porta-aviões e caças, tanques e outros veículos.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, comentou em entrevista a “interferência” da Otan. “A Ásia é uma terra promissora para a cooperação e um foco para o desenvolvimento pacífico. Não deve ser uma plataforma para aqueles que buscam lutas geopolíticas”.

“O impulso e a interferência da Otan em direção ao leste nos assuntos da Ásia-Pacífico definitivamente minarão a paz e a estabilidade regionais”, completou. A China tem reforçado a retórica russa de que a Otan ajudou a causar o conflito na Ucrânia.

A rebeldia de Taiwan, sempre foi tratada pela China comunista como uma batalha a ser vencida pelo cansaço. No entanto, assim como a Ucrânia que colocou as asinhas de fora contra a Rússia para agradar americanos, a ilha do Mar da China também vem se prestando ao mesmo papel, em provocações perigosas contra a China.

O regime de Xi Jinping não descarta uma invasão militar caso a ilha declare oficialmente sua independência. Nos últimos anos, contudo, os Estados Unidos e Europa têm ampliado as parcerias comerciais com Taiwan, além de usar os taiwaneses para provocações políticas.

Esse e outros fatores, como a tensão na Península das Coreias, transformam a região do Pacífico em uma panela de pressão pouco afeita a brincadeiras ocidentais de mal gosto envolvendo militares. No entanto, o Japão anunciou recentemente os planos para o seu maior reforço militar desde a Segunda Guerra Mundial.

Movimentação militar no Mar do Sul da China. (Foto: Reprodução)

A China reivindica as Ilhas Senkaku, uma cadeia desabitada controlada pelos japoneses no Mar da China Oriental, como seu território soberano. No entanto, nem mesmo em Taiwan houve confronto militar aberto da China com nenhum país, ao contrário dos EUA.

Com os frequentes exercícios militares no Pacífico por parte dos diferentes blocos, o Japão decidiu se posicionar na região aproximando-se da Otan, demonstrando que ele e a Coreia do Sul possuem aliados fortes no Ocidente. Austrália e Nova Zelândia também têm reforçado essa demonstração de força.

Em março, altos funcionários do Ministério das Relações Exteriores da China e publicações influentes do Partido Comunista acusaram os Estados Unidos de tentar construir um bloco semelhante à Otan no Indo-Pacífico, com um aviso oficial de consequências “inimagináveis”.

Originalmente publicado em Vermelho

Participe de nosso grupo no WhatsApp, clique neste link

Entre em nosso canal no Telegram, clique neste link