Otimismo de Paulo Guedes em relação à economia é ‘infundado’ e ‘anticientífico’, diz economista

Atualizado em 23 de novembro de 2020 às 16:14
O MINISTRO DA ECONOMIA PAULO GUEDES (FOTO: CARL DE SOUZA/AFP)

Publicado originalmente no site Rede Brasil Atual (RBA)

Enquanto o ministro da Economia, Paulo Guedes, alardeia que o Brasil saiu da recessão, buscando criar um clima de retomada, a realidade parece ser mais complicada. A economista Juliane Furno destaca que alguns setores, como o comércio, já “estacionaram”, após leve recuperação. Ela prevê que o último trimestre do ano deve voltar a registrar retração, por conta da redução de 50% no valor do auxílio emergencial.

O cenário é ainda mais “dramático” em função da alta do preço dos alimentos, que prejudica principalmente as famílias de baixa renda. Trata-se uma inflação de custos, que é explicada pela alta do dólar e pela demanda do mercado externo.

“O aquecimento da demanda internacional por alimentos fez com que o agronegócio, que é profundamente descompromissado com o povo brasileiro, aproveitasse essa onda do real desvalorizado e exportasse todas as mercadorias, desabastecendo o mercado interno”, afirmou a economista, em entrevista ao programa Revista Brasil TVT neste domingo (22).

Juliane, que é doutora em Desenvolvimento Econômico pela Unicamp, destaca que, no geral, a inflação está abaixo do centro da meta estabelecida pelo Banco Central (BC). Isso se dá em função da alta do desemprego e das incertezas decorrentes da pandemia.

Apesar da alta dos alimentos, o setor de serviços, por exemplo, tem registrado queda nos preços. Mas, como as famílias mais pobres comprometem maior parte da sua renda com alimentos, o quadro de insegurança alimentar deve se agravar ainda mais, segundo ela.

Base deprimida

Juliane afirma que o tímido avanço registrado na indústria e no comércio no segundo trimestre, por exemplo, se deve à comparação com os meses mais agudos da pandemia. Mesmo assim, ainda não repõe as perdas registradas desde março. Em vez da recuperação em “V”, propagandeada por Guedes, os índices econômicos tem desenhado uma espécie de “raiz quadrada”. Após a recuperação, estende-se um período de estagnação, que pode evoluir para uma nova retração, nos próximos meses.

Ela diz que Paulo Guedes deveria ser “coach” de economia, “porque ele gosta frases de efeito e motivacionais”. Contudo, seu otimismo é “infundado” e “anticientífico”, pois não encontra relação com os dados da realidade.

“Como foi muito grande o tombo no segundo trimestre, qualquer crescimento é uma variação positiva, porque o efeito de comparação é péssimo. Acontece que todos índices estacionaram em outubro. Agora as prévias para novembro mostram que a gente vai ter mais uma vez a volta das variações negativas”, aponta a economista.

Assista à entrevista