O momento político é sombrio, com Bolsonaro e seus asseclas empenhados em uma cruzada histérica para destruir os poucos avanços conquistados por negros, indígenas, mulheres, pobres, transgêneros e homossexuais.
Resistir neste cenário é sinônimo de sobreviver. E a resistência pode ser através de um simples relato do cotidiano, como fez o comentarista de arbitragem da Globo, Márcio Chagas da Silva.
Em depoimento publicado no UOL, ele cita as ofensas gratuitas que recebe durante o trabalho de cobertura do futebol no Rio Grande do Sul. Ser chamado de macaco e receber bananas são as mais comuns.
“A galera saiu do armário total, não tem vergonha nenhuma. As manifestações racistas estão vindo cada vez mais ferozes e explícitas”, escreveu.
Ferozes, explícitas e gratuitas. Chagas sofre ofensas só pelo fato de trabalhar em um espaço que o ideal racista não vê como apropriado para negros.
“A cada cagada que o árbitro fazia em campo, eles se voltavam contra mim na cabine e xingavam. Eu virei um para-raios pro ódio deles”, conta o profissional, cuja trabalho não tem a mínima influência na atuação do juiz em campo.
A consciência racial chegou a Márcio por meio do rap. Casado com uma negra e pai de um menino e de uma bebê de dois anos, diz que busca valorizar a autoestima dos filhos, enaltecendo a beleza, os traços físicos e o cabelo estilo “black power” do filho de cinco anos.
Mais que incentivar o amor próprio, Márcio está preparando os herdeiros para sobreviver em uma sociedade que tende a ficar ainda mais racista.
“Posso até me prejudicar no trabalho, mas resolvi comprar a briga porque nos fóruns que reúnem negros, costumamos dizer que os racistas podem nos fazer duas coisas: ou eles nos matam ou eles nos adoecem”.
Márcio está certo. Resistir ao racismo e às outras formas de intolerância chanceladas pelo governo virou questão de sobrevivência. Não há outra opção.