Publicado originalmente no blog Tijolaço
POR FERNANDO BRITO
Embora passível de enquadramento jurídico como crime de improbidade administrativa (art. 9, inciso 7, da Lei 1.950: “proceder de modo incompatível com a dignidade, a honra e o decoro do cargo”), o desempenho imundo de Jair Bolsonaro revelado na reunião ministerial exposta ontem ao país, não deflagrará, de imediato, uma ação necessária para o impedimento presidencial.
Até em razão de buscar-se uma chance de ainda deter, nas trincheiras finais, o avanço descontrolado da onda de mortes e ruína da epidemia do novo coronavírus, é desesperador que tenhamos instituições fracas para reagir à situação de podridão que assola o governo e muito mais ainda que haja uma camada nas Forças Armadas que sustente em nome de sua fome de cargos e poder.
Não, não é o dito “centrão” que poderá sustentar a continuidade de Jair Bolsonaro após a exposição pública de sua imundície.
A partir de agora – sobretudo depois da coice e provocativo do General Augusto Heleno – certamente com a anuência dos demais generais palacianos – dizendo que Jair Bolsonaro está acima das leis e das ordens judiciais, os autoproclamados representantes do Exército são os responsáveis pela continuidade deste insólito desgoverno que se instalou aqui.
E que fez do Palácio do Planalto uma fossa insalubre, onde só sobrevivem bactérias anaeróbicas, que sobrevivem apenas na falta do oxigênio democrático que nos falta com a pandemia a impedir manifestações de repúdio à fermentação fascista que acontece por lá.
Sim, não esquecemos que Sergio Moro é a mãe do processo de degradação da vida política brasileira, mas o essencial, agora, é que Jair Bolsonaro é o fruto matricida da histeria e do ódio que brotaram em Curitiba.
Aliás, sob este aspecto, a “prova” de Moro é pífia, mas revelou, por vias transversas, que se formou um esquema miliciano no comando do país, ao qual o Exército brasileiro está, com consequências graves, se subordinando.
Há chance zero de recuperarmos a normalidade e a sanidade institucional em nosso país – inclusive para as Forças Armadas – e certeza asboluta que, quem permanecer na fossa passará a ser igual ao que nela se contém.