Países árabes não vão intervir na “guerra colonial” de Israel em Gaza, diz o professor Reginaldo Nasser

Reginaldo Nasser falou sobre esses assuntos com o DCM

Atualizado em 30 de outubro de 2023 às 9:10
Reginaldo Nasser. Foto: Divulgação
Reginaldo Nasser. Foto: Divulgação

O professor Reginaldo Nasser é livre-docente de Relações Internacionais da PUC-SP. É pesquisador que aborda os Estados Unidos e os países do Oriente Médio. Ele deu uma entrevista ao DCM Ao Meio-Dia sobre o massacre de Israel na Faixa de Gaza, que chama de “guerra” ou “conflito colonial”.

É autor dos livros “A luta contra o terrorismo: os Estados Unidos e os amigos talibãs” (2021) e “Os Arquitetos da Política Externa Norte-Americana” (2010), além de ser organizador das obras “Revoltas, Conflitos e os Novos Caminhos da Geopolítica” (2021) e “Novas perspectivas sobre os conflitos internacionais” (2010).

Leia os principais trechos.

Risco de Terceira Guerra Mundial

Não tem risco de Terceira Guerra Mundial nenhuma com esse massacre na Faixa de Gaza. Veja só. Esse negócio de guerra mundial ocorre quando temos europeus na jogada.

A Guerra da Ucrânia tem esse risco, sim. Tem dois eixos de guerra, o leste e o oeste. Como foi a Guerra Fria. Com o Oriente versus o Ocidente. E tem o eixo entre norte e sul. No último caso são as guerras coloniais.

Guerra colonial nunca vai envolver grande potência. Esquece isso. São as chamadas proxy wars [guerra por procuração, do inglês]. São guerras patrocinadas.

É uma guerra colonial como foram as guerras na África, na Ásia e até na América Latina. Veja, na década de 80, estávamos no auge da Guerra Fria e El Salvador e Nicarágua tiveram uma matança. E o que aconteceu em termos internacionais por causa deles? Nada.

Nenhuma grande potência vai se envolver com isso. E no Oriente Médio eles nunca se envolveram. O auge das guerras era árabe. Egito e Síria com Israel.

Potências agiram para eles pararem. Israel estava com as forças armadas caminhando para Damasco. Ligaram para o [Henry] Kissinger e falaram para parar. Ele parou.

Então não vai ter não conflito global. O que pode acontecer é o Hezbollah entrar. Outro ponto: que outro país árabe vai entrar nisso? Nenhum. Nunca entraram com Israel no jogo.

Quem entrou foram Síria e Egito. No caso do Egito hoje, ele é aliado e não vai mexer mais com isso. A Síria hoje está arrebentada.

O Irã não deve entrar nessa contenda. O país tem uma política muito cautelosa, mas os iranianos têm aliados com o Hamas e o Hezbollah. E existe uma boa relação com a Rússia e com a China.

Potências vão se meter indiretamente. É isso que estão fazendo. Mas não vai entrar ninguém de peso diretamente. Nunca entraram antes, vão entrar agora por qual razão? Repito: nunca entraram. Por que fazer isso agora?

Palestina tem um tamanho pequeno para uma intervenção grande. O que eles estão usando é de influência regional. 

Aí sim. Isso está acontecendo.

O papel da ONU

No fulcro da política internacional em torno da questão do Oriente Médio, a ONU não está ali. Está em outro lugar.

A influência na região ali está não com as grandes potências, e sim com os países da região. As questões regionais são fundamentais nesse caso.

Grande potência não age se não tiver uma articulação com potência regional, né?

Então a coisa ali vai sair desses países árabes. Alguns deles transitam com Hamas. Outros transitam com Israel, Estados Unidos e os europeus. E ninguém mexe com esses últimos.

“Nem os EUA apoiariam uma anexação de Gaza por Israel”

Isso é um debate dentro de Israel, imenso, de anexar Gaza. Para a gente lembrar: Gaza já foi anexada. Em 1967, ela foi ocupada. Depois, ao longo dos anos 90, vieram os acordos de Oslo para dar autonomia. 

Tinha colonos dentro de Gaza e o Ariel Sharon [ex-premiê de Israel] tirou em 2005. Fez isso para propagandear para o mundo que os palestinos eram livres, né? E cercou.

Dentro do governo Netanyahu, tem gente querendo isso, inclusive o deslocamento dos palestinos.

Para fazer isso, eles vão arrasar, massacrar, e estão dizendo para irem ao Sinai, o que o Egito não vai aceitar.

Que tem gente querendo isso em Israel, tem.

Mas eu acho que isso não vai conseguir. E nem os Estados Unidos apoiariam realmente uma anexação de Gaza por parte de Israel.

Veja a live na íntegra.

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