O Instituto Nacional de Criminalística, da Polícia Federal, degravou a reunião dos ministros (sic) com o presidente (sic) Jair Bolsonaro.
Dominada por palavrões, a reunião foi apontada como prova ou caminho de prova por Sergio Moro, que deixou o governo depois de acusar Bolsonaro de interferir na Polícia Federal.
O texto está publicado no site do Supremo Tribunal Federal.
“Em 21 de maio de 2020, no INSTITUTO NACIONAL DE CRIMINALÍSTICA, designados pelo Diretor, Perito Criminal Federal LUIZ SPRICIGO JUNIOR, os Peritos Criminais Federais PAULO MAX GIL INNOCENCIO REIS e BRUNO GOMES DE ANDRADE elaboraram o presente Laudo Pericial, no interesse do Inquérito nº 4831-STF – Inquérito Policial nº 0004/2020-1, a fim de atender a decisão judicial do Ministro CELSO DE MELLO, proferida em 11/05/2020, e a solicitação do Delegado de Polícia Federal BERNARDO GUIDALI AMARAL, contida no Oficio nº 0512/2020 – IPL 0004/2020-1 – PF/MJSP – SINQ, de 12/05/2020, protocolado no Sistema de Criminalística sob o nº 608/2020-DITEC/DPF, em 12/05/2020, descrevendo com verdade e com todas as circunstâncias tudo quanto possa interessar à Justiça”, diz o documento.
A palavra segurança é mencionada 18 vezes, inclusive quando Bolsonaro fala que tem um sistema próprio de inteligência, sem descrever como funciona. Parece algo típico de milícia. Nessa frase, Bolsonaro parece estar se referindo à mudança que pretendia fazer na Polícia Federal no Rio de Janeiro. Ele não usa a frase “Polícia Federal”. Mas fica claro que não fala de segurança própria, no sentido de guarda-costas. Segue o trecho:
Jair Bolsonaro: O meu particular funciona. Os ofi… que tem oficialmente, desinforma. E voltando ao … ao tema: prefiro não ter informação do que ser desinformado por sistema de informações que eu tenho. Então, pessoal, muitos vão poder sair do Brasil, mas não quero sair e ver a minha a irmã de Eldorado, outra de Cajati, o coitado do meu irmão capitão do Exército de … de … de … lá de Miracatu se foder, porra! Como é perseguido o tempo todo. Aí a bosta da Folha de São Paulo, diz que meu irmão foi expulso dum açougue em Registro, que tava comprando carne sem máscara. Comprovou no papel, tava em São Paulo esse dia. O dono do … do restaurante do … do pa … de … do açougue falou que ele não tava lá. E fica por isso mesmo. Eu sei que é problema dele, né? Mas é a putaria o tempo todo pra me atingir, mexendo com a minha família. Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro, oficialmente, e não consegui! E isso acabou. Eu não vou esperar foder a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence a estrutura nossa. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele! Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro! E ponto final! Não estamos aqui pra brincadeira.
A palavra puta é falada oito vezes, como nesta, em que Bolsonaro demonstra irritação por ler na imprensa referências elogiosas ao governo, mas não a ele. É nítido que está com ciúmes.
Jair Bolsonaro: … leva porrada, mas o ministro é elogiado. A gente vê por aí. “A, o governo tá, o … o ministério tá indo bem, apesar do presidente.”. Vai pra puta que o pariu, porra! Eu que escalei o time, porra! Trocamos cinco. Espero trocar mais ninguém! Espero! Mas nós temos que, na linha do Weintraub, de forma mais educada um pouquinho, né? É … de se preocupar com isso. Que os caras querem é a nossa hemorroida! É a nossa liberdade! Isso é uma verdade. O que esses caras fi zeram com o vírus, esse bosta desse governador de São Paulo, esse estrume do Rio de Janeiro, entre outros, é exatamente isso. Aproveitaram o vírus, tá um bosta de um prefeito lá de Manaus agora, abrindo covas coletivas. Um bosta. Que quem não conhece a história dele, procura conhecer, que eu conheci dentro da Câmara, com ele do meu lado! Né?
A palavra bosta, como na frase anterior, em que se refere a Dória e ao prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, foi dita sete vezes. Estrume, uma, para se referir Wilson Witzel.
Merda foi dita cinco vezes, todas pela boca de Bolsonaro, como nesta vez em que se refere aos críticos de seus em passeios pelo Distrito Federal durante a pandemia:
Jair Bolsonaro: É convite, não é … não é missão não. Convite. Pra ver como é que tá o cara na … na … na esquina. Pra vir uns merda pra falar aí, né? Uns merda de sempre. “A, o cara rompeu o isolamento. Tá dando um péssimo exemplo.”. Tá .. . péssimo exemplo é o cacete, pô!
Porra e porrada juntas foram mencionadas 23 vezes, quase todas por Jair Bolsonaro, mas também pelo presidente da Caixa (sic), Pedro Guimarães, o genro do ex-presidente da OAS, Leo Pinheiro, inclusive quando acusou o Grupo Bandeirantes de Comunicação de querer dinheiro e, em razão disso, criticá-lo.
Pedro Guimarães: Quer dizer, todos os ladrões lá, PT, PMDB, PSDB, aquela ladroagem toda, vinte e cinco por cento ao mês. E ninguém se indigna. Esse governo que se indignou, o governo dos liberais. Então, assim, acho que a gente tá com um problema de narrativa. Hoje de manhã por exemplo, o pessoal da Band queria dinheiro. O ponto é o seguinte, vai ou não vai dar dinheiro pra Bandeirantes? A, não vai dar dinheiro pra Bandeirantes? Passei meia hora levando porrada, mas repliquei. E falei: “Olha vocês tão em casa? Eu tenho trinta mil funcionário na rua. Não tem esse negócio, essa frescurada de home ojjice. Eu já visitei quinze agências, e você em casa?”. Aí o pessoal ficou um pouco mais calmo. Quer dizer, eu posso ter trinta mil brasileiros nas agências lá … sabe quantas pessoas a caixa está pagando hoje? Sete milhões de pessoas, e todo mundo em home ojjice. Que porcaria é essa?
Paulo Guedes, ministro (sic) da Economia, também gosta de falar porra. Ao lado da ministra Tereza Cristina, da Agricultura, muito discreta, ele usa a expressão ao dizer que quer vender logo o Banco do Brasil.
Paulo Guedes: É um caso pronto e a gente não tá dando esse passo. Senhor já notou que o BNDE e o … e o … e a Caixa que são nossos, públicos, a gente faz o que a gente quer. Banco do Brasil a gente não consegue fazer nada e tem um liberal lá. Então tem que vender essa porra logo.
Caralho é dito uma vez. E pelo ministro (sic) Braga Neto, ao responder ao ministro (sic) Tarcísio, que pediu para ser incluído entre os ministros (sic) que falariam na reunião.
Braga Netto: Você também, caralho? Paulo guedes, quer falar por último?
Para efeito de comparação, pandemia foi dita apenas quatro vezes, nenhuma pela boca de Bolsonaro. Foi Damares quem a citou, para dizer que pretende pedir a prisão de governadores e prefeitos porque estão buscando saídas para impedir a circulação de pessoas:
Damares: A pandemia vai passar, mas governadores e prefeitos responderão processos e nós vamos pedir inclusive a prisão de governadores e prefeitos.
Amor foi dita duas vezes. Uma quando Bolsonaro falou que não tem amor pelo mandato e, em outra ocasião, quando disse “pelo amor de Deus” ao advertir os ministros (sic) de que deveriam se empenhar na defesa do governo.
Aliás, um governo que citou Deus na campanha eleitoral o tempo inteiro, foi econômico no uso da palavra durante a reunião ministerial. Além dessa citação “pelo amor de Deus”, apareceu outra vez apenas, quando Bolsonaro falou de suas bandeiras, em tom de ameaça.
Jair Bolsonaro: É. Quem não aceitar a minha, as minhas bandeiras, Damares: família, Deus, Brasil, armamento, liberdade de expressão, livre mercado. Quem não aceitar isso, está no governo errado.
Jesus, a quem Bolsonaro é comparado pelos mais fanáticos, que o chamam de Messias, ficou de fora da reunião. Ninguém o citou nenhuma vez, nem para dizer “Jesus Cristo!” como interjeição.
Como dizem os evangélicos, a boca fala o que coração está cheio. Este governo é um amontoado de vagabundos que seguem uma única religião, a do ódio.
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