Batata. A Corregedoria do Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região, no Paraná, não vai abrir um procedimento disciplinar contra o juiz federal Marlos Melek por participar de um grupo de WhatsApp a favor de um golpe de estado.
Melek estava entre os empresários e interagiu com eles. Num diálogo, ele reclama de uma “reportagem ideológica” e ganha resposta de José Koury, proprietário do shopping Barra World, que defendeu abertamente uma ditadura.
“Meu nome foi incluso no referido grupo para fins de compartilhamento de lâminas de minha apresentação realizada em São Paulo, numa homenagem feita a um jurista”, disse Melek à Folha.
“É lamentável que meu nome tenha sido colocado em meio a posicionamentos políticos inaceitáveis, pois jamais compactuei com qualquer forma de ataque à democracia ou às instituições.”
Ora. Sua obrigação era, além de sair do grupo, denunciá-lo formalmente.
Melek é um dos pais da reforma trabalhista de Michel Temer. É um palestrante de sucesso. Seu perfil no Instagram é lotado de fotos e vídeos de suas apresentação Brasil afora.
Um perfil puxa-saco de 2017 na bolsonarista Gazeta do Povo é revelador.
Segundo nos informa o jornal, Melek passou “mais de 14 horas na Câmara, em abril, outras sete horas no Senado, na semana passada, até finalmente a bola da reforma trabalhista tocar duas vezes o campo adversário e ser aprovada. Isso sem contar os meses de infindáveis discussões, protestos e muita pressão”.
Marlos é tenista e se compara ao sérvio negacionista Novak Djokovic. “Meu estilo é totalmente Djokovic. Ele é pé no chão, faz um jogo com mais cabeça e menos força. Não é pancada. Minha estratégia muitas vezes é desmontar o adversário, devolver tudo. Uma hora o cara pensa: ‘pô, não tem mais o que fazer’. Ganho o jogo no cansaço”, diz.
Nasceu em Itajaí (SC) e no primeiro ano de vida mudou-se para Curitiba. Fez parte da pequena equipe de cinco pessoas que redigiu a legislação, a comissão de redação.
Melek “conhece bem as falhas da CLT”. Foi empresário. “Comecei a trabalhar aos 14 anos, numa tornearia mecânica no Boqueirão. Depois, trabalhei em veículos de comunicação. Pegava ônibus, tive carteira assinada por muitos anos”, diz.
“Só então abri uma empresa de cosméticos (a Ramelk), que começou pequena, mas teve franquias e filiais no Brasil todo. Aí passei a ter o prazer de assinar milhares de carteiras de trabalho”, conta.
Perto dos 30, vendeu a companhia e foi para o Judiciário. Escreveu um livro chamado “Trabalhista! E Agora?” O “sucesso” de vendas chamou a atenção da Casa Civil, que articulava a reforma.
Ele é ex-repórter de rádio e apresentador de tevê. Toca bateria em sua casa no bairro de Santa Felicidade, na capital paranaense. O pai é dono de indústria química, a mãe, dona de casa. É fã do U2.
Gosta de pilotar um ultraleve de pouco menos de meia tonelada. “Precisamos de mais aviadores no Brasil”, acredita. Ele faz contas para justificar o mimo de bacana. “Viajar assim é mais barato que de carro”.
Voando pelo Brasil realizou mais de 80 palestras nos últimos meses. “A história nos julgará. Dentro de um tempo vamos ver se isso funcionou ou não funcionou. Se nós queremos saber se isso vai gerar mais empregos ou não, não temos que perguntar aos burocratas de Brasília, e não estou me referindo a ninguém, mas temos que perguntar a quem tem a caneta na mão e assina as carteiras de trabalho”, diz.
O que a matéria não conta é que Melek se afastou para fazer a assessoria direta do presidente do TST, Ives Gandra Martins Filho.
A obra literária de Melek suscitou polêmica por conta de seu sexismo. Ele advoga que “a utilização de roupas muito curtas ou apertadas [pelas mulheres] é um fator que tem sido levado em consideração para aplicação de penalidades”.
Indignados, centenas de juízes assinaram um manifesto em protesto contra o conteúdo.