O Papa Francisco revelou que foi “usado” para tentar impedir que Joseph Ratzinger fosse eleito pontífice em 2005. A revelação é parte do livro “El Sucessor”, escrito pelo jornalista espanhol Javier Martínez-Brocal, que narra as memórias do religioso e a relação com Bento 16, seu antecessor.
“Naquele conclave eles me usaram. Antes de continuar, direi uma coisa. Os cardeais juram não revelar o que acontece no conclave, mas os papas têm licença para contar”, diz trecho da obra, que será publicada no próximo dia 3 e teve partes divulgadas pelo jornal espanhol ABC.
“Aconteceu que obtive 40 votos dos 115 na Capela Sistina. Foram suficientes para impedir a candidatura do cardeal Joseph Ratzinger, porque, se tivessem continuado a votar em mim, ele não teria conseguido chegar aos dois terços necessários para ser eleito papa”, prossegue o pontífice argentino.
O Papa foi questionado se ele mesmo não poderia ter sido eleito na ocasião, mas disse que a instituição “não queria um estrangeiro”. “Foi uma manobra e tanto. A ideia era bloquear a eleição do cardeal Joseph Ratzinger. Eles me usaram, mas atrás deles já pensavam em propor outro cardeal. Eles ainda não conseguiram superar isso”, prossegue.
“Esta operação ocorreu na segunda ou terceira votação, na terça-feira, 19 de abril de 2005, pela manhã. Quando percebi, à tarde, disse a um cardeal latino-americano, o colombiano Darío Castrillón: ‘Não brinque com a minha candidatura, porque agora eu digo que não aceito, hein? Deixe-me aqui’. E aí Bento foi eleito”, conta o pontífice.
O religioso reiterou que ficou feliz com a eleição de Ratzinger na ocasião, que era o “seu candidato”. “Se tivessem escolhido alguém como eu, que causa tantos problemas, eu não teria podido fazer nada. Era um homem que acompanhava o novo estilo e não foi fácil para ele, né? Ele encontrou muita resistência no Vaticano”, diz outro trecho do livro.