Para acelerar o golpe, Renan se rebaixa e inventa que Dilma lhe disse que “não aguenta mais”. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 3 de agosto de 2016 às 10:39
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O show de horrores do golpe ganhou um novo capítulo perpetrado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros.

Renan cedeu às pressões de Temer e anunciou que vai querer antecipar a votação do impeachment para 25 ou 26 de agosto. Lewandowski havia falado em 29.

Michel Temer não quer viajar para a China, onde ocorrerá o G20, com seu status atual. A reunião está marcado para o começo de setembro.

Os dois almoçaram, acompanhados de Romero “Barrado nos EUA” Jucá e Eunício Oliveira. O próprio Jucá admitiu que o calendário foi discutido e que faria “mal ao país” Temer ir ao encontro mundial como interino.

Ficamos combinados que o que faz mal à imagem do Brasil no exterior é essa corja, mas o que o escorregadio Renan fez, ao anunciar a antecipação no Senado, foi descer mais alguns degraus na escala da ignomínia.

Diante do protesto de Lindbergh Farias no plenário, ele respondeu: “Há uma impaciência da sociedade com essa demora, inclusive a própria presidente Dilma. Ela me falou que não aguenta mais, que gostaria que esse processo se encerrasse logo”.

Não é apenas mentira.

A última vez em que Renan e Dilma conversaram um pouco mais longamente foi no dia 29 de junho. O DCM estava, naquele dia, preparando a gravação da entrevista com ela para nosso programa na TVT.

Segundo uma fonte do palácio, foi uma conversa do nada para lugar nenhum. Ele permaneceu ali em torno de uma hora.

O atropelo casuísta do regimento e dos prazos do processo já é suficientemente ruim. Mas o fato de Renan respaldar seu argumento numa suposta frase de Dilma é inacreditável — ainda que ela lhe houvesse dito qualquer coisa nesse sentido.

É certo que Dilma deve estar, como todos os brasileiros, farta da palhaçada. Achar que ela lhe fez esse pedido, como a vítima ao carrasco, depende de uma dose absurda de imaginação e maldade. A versão indigente da tirada de Lady Jane Grey ao homem que lhe ia cortar a cabeça: “Despache-me rapidamente”.

O sujeito passa por magnânimo. Uma carteirada desse nível demonstra o grau de canalhice e desespero a que chegaram Renan Calheiros, a casa que ele comanda e a corriola de que faz parte.

Se é assim, por que não convocar logo o general Etchegoyen e resolver a parada na marra? Para que um relatório de 400 páginas de Anastasia, resumido numa frase de efeito idiota, reproduzida à exaustão? (A saber: “Dilma cometeu ‘atentado à Constituição’”).

Às favas os escrúpulos.