Três ratos cegos. FHC, Aécio e Serra estão parecendo eles, a um ano das eleições presidenciais. Podemos mudar também para quatro ratos cegos, se acrescentarmos Alckmin.
Pobre PSDB, inteiramente perdido e vencido pelas circunstâncias.
Um célebre provérbio romano diz: “Quando você não sabe para onde ir, nenhum vento ajuda.”
Os tucanos não têm a menor ideia sobre para onde ir. Ou têm ideias confusas e diferentes entre si.
Serra quer ser candidato. É uma das poucas coisas claras. Mesmo com a extraordinária repulsa que provoca entre tantos brasileiros, Serra quer mais uma vez tentar a presidência.
FHC não quer Serra. Este é também um fato da vida. Mas FHC não mandou em Serra nem quando era mais jovem e ocupava a presidência. Que dirá agora, já entrado nos 80 anos? Poucas vezes se viu, na alta política brasileira, alguém com tão pouca vocação para mandar como FHC e nem alguém com tão pouca disposição para obedecer como Serra.
Logo, é jogo de soma zero aí.
E Aécio? Este parece não saber o que quer. É revelador, a esse respeito, o noticiário da Folha. Ontem, o jornal disse que FHC e Aécio estavam incomodados com as peregrinações de Serra país afora em busca de apoio.
Hoje, a mesma Folha – pobres leitores – diz que Aécio quer que as pessoas deixem Serra em paz para fazer o que quiser.
Se você leu a Folha ontem, saiu dizendo para os amigos uma coisa. Se leu hoje, está dizendo o oposto. Se leu ontem e hoje, pode mandar uma queixa para a ombudsman.
Toda essa confusão caótica pode esconder o seguinte: Aécio, no fundo, não quer ser candidato numa eleição que ele sabe perdida.
Não chega a ser uma inovação. Serra, em 2006, se esquivou para que Alckmin fosse para o abatedouro.
Serra — agora em fim de linha, até por força da natureza — entende que não tem nada a perder. Uma candidatura vai fazê-lo aparecer na televisão em cadeia nacional e afagar sua vaidade inexpugnável.
Para Aécio, é diferente. Ele é mais jovem, e talvez prefira não ser submetido em 2014 a um previsível vexame. As próximas eleições terão dois protagonistas, duas, aliás, Dilma e Marina.
O resto vai ser o resto. Eduardo Campos afirmou ter dúvidas sobre se Aécio vai adiante. É engraçado, mas a mesma lógica se aplica a ele mesmo, Campos: faz muito mais sentido vê-lo bater em retirada em 2014 para se preparar para 2018.
Aécio pode fazer o que Serra fez em 2006, sair de fina e esperar o futuro, de mãos dadas, simbolicamente, com Campos.
É, na verdade, a decisão mais inteligente para ele. Ele ficaria relativamente preservado de uma surra que se afigura histórica para os tucanos.
E teria mais tempo, depois, para ver se encontra argumentos decentes para que a voz rouca queira conversar com ele.