Originalmente publicado por BLOG DO MOISÉS MENDES
Por Moisés Mendes
Estão arrumando uma ocupação para Hamilton Mourão. Como Bolsonaro já cuida só da reeleição e não quer mais saber do seu vice de novo, andam dizendo em Brasília que Mourão pode ser candidato a governador gaúcho em 2022.
Seria uma saída honrosa para o general, que não deixaria a política e passaria a sonhar com o Piratini. Parece absurdo, mas tudo no governo militarizado de Bolsonaro é construído a partir de ideias e situações esdrúxulas.
Era só o que faltava para um Estado tomado pela direita. Mas Gustavo Uribe e Julia Chaib contaram em detalhes ontem na Folha o que está acontecendo.
Bolsonaro considera Mourão um adversário, desde o início do governo. Os dois não conversam e mantêm apenas uma grande afinidade, que não é citada na reportagem, mas é conhecida até pelas emas de Brasília. Bolsonaro e Mourão são adoradores de torturadores.
Tanto um quanto o outro têm Brilhante Ustra como herói. Mourão chegou a dizer que Ustra era um defensor dos direitos humanos.
No resto, os dois pouco se entendem. Talvez cheguem a um acordo sobre as concessões aos destruidores da Amazônia.
Mourão é presidente do Conselho da Amazônia, a ocupação que recebeu de Bolsonaro, mas apenas repete tudo o que Ricardo Salles faz e diz.
Não há uma discordância entre os dois, porque Salles age por Bolsonaro na defesa de grileiros, incendiários, garimpeiros e no desprezo pelos índios.
Mourão não pode desafiar o preposto do chefe. É apenas uma espécie de porta-voz do que o ministro incendiário defende.
Mas Bolsonaro quer se livrar de Mourão por achar que não suportaria um segundo mandato com o general ao seu lado, fazendo sombra e incomodando seus garotos.
Os garotos sempre acharam que Mourão, usado para dar a ideia de suporte militar ao governo, queria (com um golpe?) a cadeira de Bolsonaro, por se achar mais preparado.
Mas o vice que assusta seu superior não comove nem a direita mais racional. Mourão atua na mesma faixa de Bolsonaro. É um ultraconservador, e não uma alternativa ao extremismo bolsonariano.
Bolsonaro deseja ter as ministras Tereza Cristina ou Damares Alves de vice. Mourão já está sabendo que está fora da jogada de 2022, o que constrange sua turma entre os generais que estão no poder.
Foi aí que surgiu a ideia de transformá-lo em candidato ao governo gaúcho, porque ele nasceu em Porto Alegre, já serviu aqui e tem fortes vínculos com o Rio Grande Sul. Se a ideia de se candidatar ao governo não prosperar, que se examine a chance de concorrer ao Senado.
Tudo é possível. Carmem Flores, que ficou famosa vendendo sofás, quase tirou o mandado de senador de Paulo Paim em 2018.
O Rio Grande do Sul poderá ser o primeiro Estado a eleger um general governador ou senador. Um general abertamente admirador de torturadores.
Alguns dirão que essa é a terra de Julio de Castilhos, Getúlio, Pasqualini, Jango, Brizola e que não é bem assim.
Não há o que fazer. A extrema direita está com o controle da situação. É só enfiar as bombachas no homem, reaprumar o sotaque e chamar a cavalaria.