As nove horas de show dos desembargadores do TRF 4 em seu julgamento canguru (apud New York Times) foram plenas de grandes momentos do Direito nacional — não necessariamente no bom sentido, aliás, muito pelo contrário.
“Lula foi um dos principais articuladores, senão o principal articulador, do esquema de corrupção da Petrobras”, cravou o relator João Pedro Gebran Neto, dando o tom da coisa, tomando água enquanto lia as 414 páginas de seu voto escritas por um estafeta.
A condenação de Lula a 12 anos e um mês de prisão foi resumida por Victor Luiz dos Santos Laus com um papo furado de taxista: “Quem responde por crime tem que ter participado dele. E para ter participado dele, alguma coisa errada ele fez”.
Mas coube ao revisor Leandro Paulsen levantar a bandeira do preconceito de classe disfarçada em senso comum com toques de sandice.
“A absoluta despreocupação da Sra. Marisa Letícia e do Sr. ex-Presidente (…) acerca da diferença de preço a ser suportada para aquisição de um apartamento três vezes superior ao originalmente negociado, em cujo interior estavam sendo realizadas vultosas reformas, somente aponta em um sentido: não era com recursos pertencentes aos réus que o bem estava sendo adquirido”.
Para o doutor Paulsen, portanto, Lula e a mulher não tinham dinheiro para comprar o apartamento. Ora, tá na cara. Como ele sabe disso? Como fica a acusação de que Lula embolsava milhões com palestras para a Odebrecht?
Dona Marisa não podia ter cartão de crédito, segundo Paulsen. Cláudia Cruz, por outro lado, pode torrar a grana de Cunha numa boa em aulas de tênis na Europa porque nasceu para isso.
Como apontou Victor Laus, alguma coisa errada Marisa Letícia fez. Tá na cara.