No quarto andar do Palácio do Planalto, a poucos passos do gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro Rui Costa, da Casa Civil, chegou sorridente para um café da manhã com jornalistas. Cumprimentou a todos em fila e, mal se sentou na ponta da mesa, danou-se a falar. Coringa, Rui fala de tudo sem uma anotação na mão, vem tudo da cabeça. Vai, pausadamente, pulando de um assunto para o outro, num longo preâmbulo com o rol de ações do governo em diversas áreas. Tenta, dessa forma, neutralizar um movimento já muito claro da mídia, nestes dias que correm: de tratar dos 100 primeiros dias do governo Lula como um museu de velhas novidades.
Sorridente, corado, Rui foi trazendo da memória o que ele imaginou ser um corolário de boas novas à disposição dos poucos mais de uma dezena de repórteres alinhados em frente a louças de desjejum. Contou, em um só fôlego, que os três primeiros meses de governo visaram priorizar a remontagem e reconstituição dos compromissos de campanha de Lula, a começar pela recriação de programas historicamente bem sucedidos, como o Minha Casa Minha Vida, extinto pela dupla Temer-Bolsonaro e, agora, retomado pelo governo do PT, com inovações de faixas de financiamento, ação em prédios urbanos e cessão de lotes urbanizados.
Os jornalistas se incomodaram. Na manhã da coletiva, o jornal “O Estado de S.Paulo” amanheceu com a notícia de que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, havia levado um chá de cadeira de Rui na antessala da Casa Civil. Por isso, teria se levantado e ido embora, irritado. Era preciso consolidar a tese de que Rui e Haddad estão brigados por conta das discussões sobre o tal arcabouço fiscal, de cujo conteúdo quase ninguém sabe, mas que tem soado como as trombetas do apocalipse dos 100 dias, no delírio coletivo da mídia brasileira – aliás, subitamente interessada pelo bem-estar da população.
Rui vai adiante. Fala de energia renovável, leilões do governo em parques de energia eólica, agenda para produção de fertilizantes. Traz as novidades do novo Mais Médicos, a previsão de convocação de 28 mil profissionais, prioritariamente brasileiros, com direito a bônus financeiro para os que ficarem no programa por pelo menos quatro anos. Fala de como o SUS não contou com a participação do governo federal, durante a tragédia bolsonarista, para garantir atendimento de alta complexidade médica a milhões de cidadãos. Adianta que Lula vai ao Ceará, em abril, para lançar o programa de escolas de tempo integral, junto com o ministro Camilo Santana, ex-governador do estado. Ataca de Bolsa Família.
E a briga com Haddad?
“Para ficar mais próximo de Haddad, só se eu for morar com ele ou ele vier morar comigo”, rendeu-se, finalmente, o ministro, levemente resignado, para desabafar, em seguida. “Essa é a maior diferença da Bahia para Brasília, essa sensação de prioridade para intriga, nota falsa [na imprensa]”, avaliou. Lembrou de caso semelhante, há pouco tempo, noticiado sobre ele e a ministra Simone Tebet, do Planejamento, em uma reunião de trabalho.
“Falaram que Simone tinha saído aborrecida. Ela tinha que sair mais cedo, para outro compromisso. Por isso, inverti a pauta para ela sair mais cedo. Qual o interesse de uma notícia falsa como essa?”, perguntou. “Agora, alguém criou a tese da disputa entre mim e Haddad. Teremos que tomar café juntos, almoçar e morar juntos”, brincou.
Na coletiva, também se viu obrigado a defender o direito da presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, de divergir do governo. “Ninguém questiona quem é do mercado, mas a presidenta do partido, todo mundo questiona. Lula não quer a paz dos cemitérios. Quer contribuição de todo mundo. É legítimo e necessário, pois alerta quem está elaborando as propostas. Esse ‘puxa e estica’ não é um problema”, disse Rui.
Também negou distribuir broncas em ministros. Foi instado a explicar que a casa do ministro Paulo Pimenta, da Comunicação Social, em Brasília, embora não tenha sido declarada na Justiça Eleitoral, o foi no Imposto de Renda, atrelada ao CPF da esposa. “A imprensa deve criticar, mas tem que ter parâmetro”, analisou, já ciente do pouco interesse no anúncio, feito poucos minutos antes, das perspectivas de implantação deu um novo Programa de Aceleração da Economia (PAC), de cujo gerenciamento surgiu a vitoriosa candidatura de Dilma Rousseff, em 2010.
Dilma de Calças?
Definido que os 100 dias terão quer ser um fracasso, a tropa foi liberada pelas redações para se refastelar, alegremente, nas delícias do fuxico.