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Vinte anos se passaram e Lóide (Jim Carrey) está numa clínica de repouso, numa cadeira de rodas. Durante essas décadas, toda semana, seu amigo Debi (Jeff Daniels) o visitou, trocou sua fralda e lhe deu atenção – até o dia em que, se matando de rir, o sujeito confessa que não estava doente, e que fez isso apenas para rir da cara do amigo, que lhe diz: “Você perdeu os melhores anos da sua vida, me fez vir aqui toda semana e limpar seu traseiro só para me pregar uma peça?”. Os dois riem até não poder mais. Essa é a primeira cena de Debi & Lóide 2, e marca o tom do filme.
Há um algo de perversamente ingênuo na dupla de personagens criada pelos irmãos Bobby e Peter Farrelly, que também assinam a direção, e Bennett Yellin. Mas, ao contrário dos personagens desse mesmo estilo, que em sua ingenuidade e falta de pudor podem revelar a hipocrisia da sociedade, Debi e Lóide estão aqui apenas para as palhaçadas – na falta de termo melhor.
Há um fiapo de trama no roteiro assinado por seis pessoas – além dos já citados, também Sean Anders , Mike Cerrone, John Morris – para servir de cola às piadas. Depois de deixar a clínica, Lóide vai morar com Debi, que lhe confessa estar sofrendo dos rins e precisar de um transplante. Quando procuram os pais dele, que são chineses, confessam que ele é adotado. Em meio a cartas antigas que nunca abriu, porém, ele descobre boas notícias, quando lê que uma de sua ex-namoradas contava estar grávida – acontecimento que data do começo dos anos de 1990. É a chance de um doador de rins.
Ao reencontrar a namorada, Fraida Felcher (Kathleen Turner, vítima, aliás, dos piores comentários sexistas do filme), ela lhe dá o endereço da filha, Penny (Rachel Melvin). A garota foi adotada por um cientista (Steve Tom) inteligentíssimo – até ganhou um Nobel –, mas, como ele está doente, manda a garota para um congresso para representá-lo. Porém, ela não é nada esperta, puxou ao pai biológico. A trama se resume a Debi e Lóide na estrada, em direção à conferência para achar Penny, revelar o segredo e pedir um rim.
Realmente, esperar uma trama ou algo parecido num filme desses é pedir demais – aqui, bastariam boas piadas, nada muito elaborado. No entanto, aqui elas limitam-se a ser mais visuais do que verbais – e só algumas são realmente engraçadas.
Se em filmes mais dramáticos Carrey torna-se um pouco mais contido, neste gênero cômico é o espaço ideal para ele se libertar e falar, fazer todos os trejeitos e ruídos que lhe ocorrerem – e não são poucos. Livre de qualquer empecilho, o ator rouba o filme. Para quem acha graça em seu tipo de humor, não pode haver nada melhor.