Um dos critérios usados por Napoleão para a escolha de seus generais era a sorte.
Bem, não se pode negar que Marina tem tido sorte em sua cavalgada rumo ao Planalto.
O momento-chave para sua escalada de agora se deu nos protestos de junho de 2013.
Para os jovens que saíram às ruas, Marina era a exceção no mofado sistema político brasileiro.
Ela, e apenas ela, escapou da execração generalizada das multidões contra os políticos.
Marina era “diferente” dos demais, na percepção difusa dos que participavam dos protestos.
Dessa percepção à construção do mito na “nova política” foi um salto. Todo o resto, tudo aquilo que levava as pessoas manifestar sua indignação – ali estava a “velha política”.
O “desígnio de Deus” ao colocar Eduardo Campos naquele avião e tirar Marina dele fez o resto.
Na hora certa, sob a comoção da tragédia e em meio a uma campanha previsível e morna na qual a vitória parecia assegurada para Dilma, eis Marina e sua “nova política”.
Estava na cara que ela ia bombar. E bombou.
Só agora ficou claro, para os que lá atrás no protestos viam em Marina algo “diferente”, que ela é igual aos demais.
De “nova política” ela só tem, a rigor, o refrão.
Numa “nova política”, por exemplo, não caberia um programa econômico que até o Citi considera conservador e favorável aos bancos.
Não haveria espaço, consequentemente, para gurus da economia que repetem fórmulas thatcheristas usadas na gestão FHC como se fossem a receita do sucesso.
Ora, o mundo já viu a calamidade que a médio prazo o thatcherismo representa: a crise econômica internacional é fruto dele, com suas desregulamentações ruinosas que quebraram bancos e países em série enquanto um pequeno grupo enriquecia barbaramente, o chamado “1%”.
Numa “nova política” não teria sentido, até por simbologia, uma banqueira no papel de principal conselheira, sobretudo quando o banco do qual ela é acionista está envolvido numa pendência de 18 bilhões de reais com a Receita Federal, sob suspeita de sonegação.
A sorte de Marina foi, naquele ciclo de protestos, não haver conhecimento do que poderia representar de fato “o novo”.
Nos debates, os inconformados de junho passado foram apresentados a alguém que com certeza caberia muito melhor que Marina no papel de “diferente”: Luciana Genro.
Marina era a “percepção” de coisa nova para os jovens indignados. Luciana Genro é a realidade para eles.
Tivesse Luciana conquistado dimensão nacional antes, com certeza ela tiraria muitos votos de Marina entre os “indignados” dos protestos de junho, eles que são a base sem a qual não haveria a ascensão marinista.
Azar de Luciana? Nem tanto. Seu partido provavelmente se consolidará, sob ela, como um reduto da esquerda ocupada, no passado, pelo PT.
O PT se movimentou para o centro, ou centro-esquerda, e o PSDB para a direita. Ficou aberto um lugar na esquerda, e muita gente viu nesse espaço a imagem de Marina, e com isso seu cacife de votos se transformou no que estamos vendo agora.
Sorte dela.
Pela lógica napoleônica, também presidentes precisam de sorte.
Isso não quer dizer que Marina vá ganhar: como disse Lula, será o segundo turno mais longo da história, com o confronto entre Dilma e Marina.
Quer dizer apenas que Marina tem sorte, e isto não é pouca coisa.
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