Familiares das vítimas da recente Operação Verão na Baixada Santista, litoral paulista, revelam que estão enfrentando intimidação por parte dos policiais. Alegações incluem a presença de agentes durante velórios e enterros, com o propósito de pressioná-los.
Durante uma visita realizada no domingo (3) por uma comitiva composta por representantes de organizações de defesa dos direitos humanos, famílias das vítimas compartilharam seus relatos. O presidente do Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana), Dimitri Sales, que participou da comitiva, destacou a preocupante atitude da polícia em intimidar os familiares para evitar possíveis denúncias contra as forças de segurança.
“Além de pegar detalhes de como se deram os assassinados, o que chamou a nossa atenção foi a atitude da polícia, pós-chacina, de intimidar familiares para evitar denúncias [contra as forças de segurança]”, pontuou Sales.
O presidente do Condepe completou: “Há episódios de policiais acompanhando velórios e enterros de vítimas. Há imagens da polícia dentro do cemitério. Há relatos de agentes entrando na casa para quebrar coisa e intimidar”.
Segundo relatos, policiais foram vistos nos locais de velório e enterro das vítimas, e até dentro de cemitérios. Além disso, há denúncias de agentes invadindo residências para intimidar e destruir bens. O clima de medo é tão intenso que três famílias cancelaram os encontros agendados com a comitiva, temendo retaliações.
A comitiva contou com a presença da ouvidora nacional de Direitos Humanos, Luzia Cantal, do ouvidor das polícias de São Paulo, Claudio Aparecido da Silva, e de representantes de entidades como a Comissão Arns e o Instituto Vladimir Herzog.
De acordo com a Folha de S.Paulo, a partir dos depoimentos coletados, o grupo planeja elaborar um relatório para documentar as denúncias, semelhante ao apresentado ao procurador-geral de Justiça de São Paulo, Mário Luiz Sarrubbo, na semana anterior.
A Operação Verão é apenas a mais recente em uma série de investidas policiais na região, incluindo a Operação Escudo, que resultou em 28 mortes no ano passado. Apesar das diferentes nomenclaturas, tanto a Operação Verão quanto a Operação Escudo apresentam semelhanças em seus modus operandi, concentrando-se principalmente nas áreas periféricas das cidades litorâneas de Santos, São Vicente e Guarujá.
Já a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP), negou abusos nas operações e afirmou que as forças de segurança “atuam no estrito cumprimento do seu dever constitucional e não compactuam com desvios de conduta”: “As corregedorias das polícias Civil e Militar estão à disposição para formalizar e apurar com absoluto rigor toda e qualquer denúncia contra agentes públicos”.