Além da utilização ilegal de cartórios, o bolsonarismo empenha-se no envolvimento de igrejas evangélicas para a criação de seu partido político de forma a viabilizar a participação nas eleições municipais deste ano.
Envolvimento ou “apoiamento”, como diria o Pastor Emerson Patriota.
No último final de semana, o pastor autorizou a entrada de um ônibus do tal Aliança pelo Brasil no pátio de sua igreja, a Presbiteriana Central de Londrina, e praticamente coagiu as pessoas presentes no culto a assinarem a lista de criação no novo partido.
Praticamente, não, coagiu mesmo. Afinal, Emerson Patriota é um pastor, o que ele diz é seguido pelos fiéis. Se as pessoas pensassem com as próprias cabeças não precisariam de um pastor ou um guru, certo?
“Vocês viram um grande ônibus estacionado ali no nosso estacionamento escrito Aliança pelo Brasil? Você viu ou não? Está meio escuro, mas tenho certeza que você viu. Esse ônibus, nós estamos fazendo um apoio a essa… esse movimento que está tendo no Brasil pra formação desse partido político”, disse o pastor.
“Então eles estão ali, na saída do Centro de Adoração… E nós montamos ali um local, espaço, para que você possa no final do culto passar por lá, conhecer mais os valores desse futuro partido, e você possa fazer seu apoiamento. Inclusive nós temos aqui o pessoal do cartório pra facilitar todo esse processo, porque tem que ser firma reconhecida, aquela coisa toda.”
Eu sei, doeu ler ‘apoiamento’, mas o substantivo, acredite, existe. É desses termos novos que o cotidiano impôs na marra aos verbetes dos dicionários. A tal “língua viva”. Não compreendo a dificuldade em dizer “apoio”, mas tudo bem.
Emerson Patriota é formado em Engenharia Civil pela Universidade Estadual de Londrina e chegou a atuar na área por 3 anos, quando então “recebeu o chamado pastoral”.
Casado, pai de dois filhos, Emerson não escapa à moda dos pastores celebridades. Faz vídeos e lança livros. É autor de “Siga-me”.
Esse seu recente pronunciamento, recheado de problemas, causou grande repercussão e o vídeo foi tirado de seu canal no Youtube.
Até porque, além de comprovar que cartórios estavam ali, comprometia ainda o deputado federal Filipe Barros, do PSL.
“Não é filiação ao partido, porque o partido ainda não existe, Aliança pelo Brasil, encabeçado pelo nosso presidente, Jair Messias Bolsonaro e também você sabe que nós temos aqui conosco, o discípulo da nossa igreja, o deputado federal Filipe Barros. Toda sua família são discípulos, frequentam nossa igreja, estão firmes aqui, servem a nossa igreja. Felipe Barros nós assumimos o compromisso como igreja, você estava aqui.”
Filipe Barros é bolsonarista raiz, desses que comemoram aniversário do golpe militar de 1964, além de ser um dos vice-líderes do governo na Câmara.
Com o ‘apoiamento’ de pastores como Emerson Patriota, de cartórios suspeitos e algumas entidades empresariais, já foram coletadas mais de 110 mil assinaturas.
São necessárias exatas 492.015 rubricas para obter-se o registro na Justiça Eleitoral.
Mas se teve uma passagem que chamou atenção na oratória do pastor, foi a que justificou os motivos para que os fiéis apoiassem e acreditassem na nova legenda.
“Eles já estão aqui para nos abençoar, então você, no final, nós estamos desafiando você, todos, a passarem lá, conhecerem o estatuto, os valores. Na verdade, eu estava conversando com algumas pessoas e disseram que é mais difícil entrar nesse partido do que em algumas igrejas por aí. Sabe, tem que ter mais vida idônea do que algumas igrejas exigem. Isso é muito bom, porque tem valores familiares.”
Os valores familiares dos Bolsonaro, com envolvimentos com milícias, com corrupção, com sexo casual às custas dos cofres públicos e rachadinhas de todo tipo devem abrir portas para o inferno, caso ele exista.
Os tais valores do bolsonarismo são exclusivamente voltados ao moralismo cínico e obtuso, aptos – quando muito – a administrar uma família de contornos patriarcais estacionada no século passado.
O bolsonarismo já deu provas de estar pouco se lixando para justiça social, saúde, cultura, educação, redução da desigualdade, habitação, saneamento básico. Ou seja, tudo aquilo que um Estado de fato deve se ater.
Mas religiosos mal intencionados fazem questão de não esclarecer isso.