“Pastor”, “irmão” e outros títulos religiosos estão mais raros nas urnas em 2024

Atualizado em 3 de setembro de 2024 às 13:03
O ex-presidente Jair Bolsonaro cercado por pastores. Foto: reprodução

O uso de títulos religiosos nas urnas brasileiras sofreu uma queda significativa nas eleições municipais de 2024. De acordo com um levantamento do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), foram identificadas 7.940 candidaturas que incluíram termos como “pastor”, “irmã”, “padre”, entre outros, em seus nomes de campanha. Esse número representa uma redução de 21,5% em relação ao pleito de 2020, quando 10.117 candidatos utilizaram essa estratégia.

Renata Nagamine, pesquisadora do Cebrap, explicou à Folha que, apesar da diminuição, a prática ainda é comum, especialmente entre candidatos evangélicos. “Indexadores evangélicos são os mais usados. E é importante destacar que nem todos os candidatos que se autodeclaram religiosos usam esses identificadores”, afirmou.

O título de “pastor” é, com sobras, o mais utilizado, representando 41,3% das candidaturas que adotaram termos religiosos desde 2000. Irmãos e irmãs vêm logo em seguida, com 28,8% e 11,8%, respectivamente.

O estudo do Cebrap também ressalta que a queda no uso de títulos religiosos pode estar ligada a mudanças na legislação eleitoral. Dirceu André Gerardi, cientista político e membro do Cebrap, aponta para as reformas que reduziram o número de candidatos, como a cláusula de barreira, que impôs requisitos mais rigorosos para que os partidos tivessem acesso a recursos e tempo de propaganda eleitoral.

O deputado federal Pastor Sargento Manoel Isidório (Avante-BA). Foto: reprodução

Além disso, Vinicius do Valle, do Observatório Evangélico, ressaltou que a utilização de cargos eclesiásticos nos nomes de guerra eleitoral “fica um pouco desnecessária se é um candidato que já é promovido dentro das igrejas”. Segundo ele, quem reforça a pertença religiosa nas urnas, em geral, “é para suprir a falta de engajamento da sua instituição”.

Outro fator relevante é a crescente concorrência interna dentro da direita, especialmente entre candidatos bolsonaristas. O excesso de postulantes defendendo pautas conservadoras criou um cenário em que as candidaturas evangélicas acabaram perdendo espaço para candidatos que, embora não fossem necessariamente evangélicos, adotavam um discurso fortemente alinhado ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Clemir Fernandes, sociólogo e pastor, afirmou à Folha que, com o aumento da presença de grupos cristãos na política desde 2018, a exposição de títulos religiosos perdeu um pouco da sua relevância. “Toda a gramática e estética das candidaturas já seria fortemente evangélica ou católica”, comentou, sugerindo que, em muitos casos, o simples fato de ser associado a esses valores já é suficiente para atrair o eleitorado cristão.

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