PUBLICADO ORIGINALMENTE NO BRASIL DE FATO
Especialista em salto livre de paraquedas, o militar que ocupa o Ministério da Saúde ainda não revelou nenhum dos seus conhecimentos de logística que o alçaram para fazer essa ocupação militar na pasta.
Um dos grandes exemplos da incapacidade de conhecimentos logísticos por parte não só do atual ministro mas da ocupação militar da Saúde, foi o encalhe dos testes estocados revelados pela imprensa.
Desde quando foram revelados, as mais variadas argumentações feitas pelo Ministério da Saúde foram dadas e nenhuma resposta concreta para fazer com que estes testes cheguem ao conjunto da população.
É importante todos saberem que essa não é uma questão nova, embora tenha aparecido recentemente, com muita evidência na imprensa. Mas a própria imprensa já tinha mostrado em agosto a existência destes testes encalhados exatamente porque a compra deles foi feita por kits incompletos e até hoje não foram complementados com os ítens necessários.
Quando questionados por nós, na Comissão da Covid-19, sobre a compra de extratores, que é uma parte importante para poder fazer com que aqueles testes que estão encalhados sejam usados pelos estados e municípios, a resposta do ministério foi de que estavam preparando um leilão de licitação que iria comprar um conjunto de extratores.
Ou seja, é algo que se sabe desde agosto e que não teve nenhuma atitude por parte do ministério. E é por isso que os testes ficaram encalhados. Porque os estados e municípios não podem usar aqueles kits que estão incompletos.
A segunda revelação grave é que os testes encalhados devem perder a validade entre dezembro deste ano e janeiro de 20 e o impressionante é que o ministério disse que a Anvisa vai prorrogar.
Mas na reunião que fizemos na Comissão da Covid-19 a Anvisa disse claramente que até hoje não recebeu nenhum pedido de prorrogação ou reavaliação do prazo pelo Ministério da Saúde ou por qualquer outro ator, inclusive pela empesa privada.
Ou seja, é o tempo todo o ministério mostrando a sua incapacidade de fazer com que a máquina poderosa do Sistema Único de Saúde (SUS) gire para salvar vidas.
É muito preocupante o fato de termos um plano nacional de vacinação nas mãos dessas figuras absolutamente incompetentes, inclusive do ponto de vista da logística, para lidar com o SUS.
O Brasil precisa de um plano robusto que garanta a vacina para todos e todas que tenham indicação de recebê-la. Para isso, o Brasil precisa adquirir mais de uma técnica de vacina. É preciso fazer parte de todos os projetos de desenvolvimento de vacina que existem hoje no mundo como um todo.
O Brasil tem força para isso, tem um grande mercado com mais de 200 milhões de habitantes, tem tradição em vacinação e tem instituições públicas como o Butantan, a Fundação Oswaldo Cruz e outras como a TecPar no Paraná, Funed de Minas Gerais, Lafepe de Pernambuco, Bahiafarma na Bahia que podem assumir um papel muito importante na colaboração, desenvolvimento e produção de vacinas.
Para vacinar toda a população que tem indicação, a gente precisa adquirir e ter domínio de várias tecnologias de vacina. E o que Bolsonaro está fazendo até agora é exatamente o contrário.
A proposta do plano de vacinação apresentada pelo Ministério da Saúde parte do pressuposto de não vacinar toda a população, de não garantir vacina para todos e todas. Parte da ideia de garantir vacina para apenas um terço da população.
Estabelece fases que não se sabe quando começa e muito menos quando termina. As fases apresentadas colocam a situação de o Brasil começar um plano de vacinação e se estender ao longo de todo o ano de 2021 e 2022, sem garantir a proteção imediata e precoce de toda a população.
Nós precisamos de um plano de vacinação que garanta a vacina para todas e todos. Isso é possível se o Brasil participar de todos os programas, de pelo menos cinco vacinas que já têm mostrado algum grau de eficácia nos seus estudos preliminares.
Isso só é possível se o Brasil desde já organizar a aquisição de seringas, de insumos e utensílios fundamentais para o plano de vacinação. Isso só é possível se o Brasil desde já estivesse estudando como utilizar essas vacinas, ampliando a capacidade de refrigeração das unidades de saúde – por exemplo, para as vacinas que exigem refrigeração a -70ºC – como a vacina da Pfizer, que começa a vacinação no Reino Unido na próxima semana.
Para a vacinação dos profissionais de saúde e usuários dos grandes hospitais no Brasil significaria um percentual da população. Nada disso têm sido feito pelo especialista em salto livre em paraquedas que caiu no Ministério da Saúde, e coordena a ocupação militar da pasta.