Ex-assessor do ex-ministro da Saúde Pazuello, o empresário Airton Cascavel foi preso em Boa Vista, Roraima, nesta terça-feira (8). Ele é acusado de estuprar uma jovem de 18 anos em Joinville, no Norte de Santa Catarina, segundo a Polícia Civil.
De acordo com as investigações, o abuso sexual teria sido praticado na casa da mãe do suspeito, na cidade de SC. A vítima seria uma jovem que trabalhava cuidando da proprietária da residência.
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Cascavel é acusado de outros casos de estupro
Em setembro de 2021, Cascavel passou a ser investigado por outro estupro. A vítima, no caso, teria sido sua própria neta. Foi registrado um boletim de ocorrência na época pela mãe da criança. O caso está em segredo de Justiça.
O empresário de 57 anos será encaminhado, com apoio da Polícia Civil de Roraima, para audiência de custódia na quarta-feira (9). O mandado de prisão foi expedido pela 1ª Vara Criminal de Justiça de Santa Catarina.
Na época em que era secretário estadual de Saúde de Roraima, após passar pelo Ministério da Saúde, Airton Cascavel já estava respondendo a um inquérito policial. A investigação começou em janeiro de 2019 por suspeita de estuprar uma adolescente de 13 anos.
Esse crime, de acordo com denúncia da vítima, ocorreu numa chácara localizada no Monte Cristo, zona rural de Boa Vista. No depoimento, a adolescente relatou que estava na chácara onde moram o avô e o pai. Ao acordar, se dirigiu à piscina, a 200 metros da casa, para usar a internet pelo celular, quando foi abordada pelo suspeito.
Quem é Airton Cascavel?
Airton Antonio Soligo, conhecido como Cascavel, foi acusado de envolvimento no escândalo da Covaxin, quando trabalhava no Ministério da Saúde, então comandado por Eduardo Pazuello.
A primeira reportagem de fôlego a conectar Cascavel com Pazuello foi publicada no dia 7 de de janeiro de 2021 pelo jornalista Lúcio de Castro no site Sportlight. “A teia do general” mostra o “homem forte” do ex-ministro da Saúde denunciado por tentativa de desvio de vacinação.
A ficha corrida de Airton Soligo é longa.
Em 1989, quando era prefeito de Mucajaí, em Roraima, ele foi acusado de corrupção ativa por subornar o delegado da agricultura de Roraima envolvido na campanha de vacinação da febre aftosa no interior do estado, como está na denúncia do MPF-RR. A denúncia consta no inquérito de número 1.067 no Ministério Público daquele estado.
Cascavel renunciou do cargo de prefeito em 1990 e depois se tornou deputado estadual e continuou sua carreira política, mesmo com as acusações e as mudanças de foro relacionadas ao processo. Foi vice-governador em 1995 e tornou-se deputado federal em 1998.
Ainda segundo o site Sportlight, Soligo aparece em acusações de grilagem de 2012, identificadas pelo MP, com Rodrigo Jucá, filho do ex-senador Romero Jucá – do “com Supremo, com tudo” no golpe parlamentar de 2016.
No dia 24 de junho, Cascavel ganhou o cargo de “assessor especial”, com código DAS-102/5 publicado no Diário Oficial da União (DOU). Em 14 de dezembro de 2020, Airton Soligo foi o representante de Pazuello e Bolsonaro para falar sobre a compra da Coronavac junto ao governo Doria.
Airton Cascavel foi pessoalmente conversar com o presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, reduzindo a temperatura dos constantes atritos entre Doria e Bolsonaro.
Uma reportagem de Eduardo Gonçalves na revista Veja em 19 de março de 2021 aponta Cascavel não como braço direito de Pazuello no Ministério da Saúde e sim como “ministro de fato”.
“Na opinião da maioria dos gestores estaduais e municipais, Cascavel era o ‘ministro de fato’ da pasta. Da estrita confiança de Pazuello, era Cascavel quem ‘desenrolava’ a maior parte das pendências burocráticas e demandas logísticas com os estados e municípios, como entrega de respiradores, lotes de vacina, equipamentos para leitos de UTI, negociações com laboratórios etc”, diz o texto da Veja.
Cascavel era, portanto, um “faz-tudo” de Pazuello na gestão desastrada da Saúde e na crise da covid e da falta de oxigênio em Manaus.
Em 23 de março de 2021, o general foi exonerado do cargo de ministro e assumiu o médico cardiologista Marcelo Queiroga. Ele tirou o homem de Eduardo Pazuello do governo.
Mas Cascavel não ficou sem emprego. O governo do bolsonarista Antonio Denarium, de Roraima, nomeou Airton Soligo como secretário de Saúde do estado.