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Por Moisés Mendes
Militares de alta patente são formados com uma jornada pesada de estudos. Um oficial chega a general porque estudou tudo que será seu alicerce de racionalidade, disciplina e liderança.
Um oficial estuda lógica, estratégia, cálculo, administração, ciências, história, engenharia, filosofia. Um general é um homem pronto para pensar e agir também em momentos de urgência. Eles são claros, objetivos e treinados para exercer o poder e liderar.
O general mais exposto no Brasil hoje, como figura pública, é o general Eduardo Pazuello. Que é general da ativa, e não da reserva, como são todos os outros que prestam serviços a Bolsonaro.
Pois a figura de Pazuello, o especialista em logística, é o contrário da imagem que foi construída como sendo a de um general. Ele não sabe a hora em que uma decisão deve ser tomada, não sabe o lugar, não sabe com quem fala, diz uma coisa num dia e diz outra no dia seguinte, comunica-se e pensa mal.
Pazuello é o general do Dia D e da hora H, que não significam nada, nem como brincadeira de um clichê militar.
Foi Pazuello quem comprou um lote de vacina num dia e teve de desfazer a compra no outro, por ordem de Bolsonaro, porque as vacinas eram chinesas.
Pazuello é o general que agora compra de novo as mesmas vacinas que Bolsonaro não queria que ele comprasse. Que manda, como ministro, que receitem cloroquina (tinha até aplicativo do ministério, que foi deletado), mas nega que tenha mandado.
Pazuello foi comandante militar da Amazônia, com seu QG em Manaus. É agora o ministro da Saúde que não soube socorrer Manaus.
Militares fincam relações afetivas fortes, às vezes mais fortes do que as relações profissionais, por onde passam, e eles passam por vários lugares durante a carreira.
O que explica o tratamento de Pazuello à maltratada Manaus que o acolheu como comandante, por mais curta que tenha sido sua passagem?
Poderiam dizer que Pazuello é autoritário, um carimbo sempre disponível para alguém fardado. Poderiam dizer que é um trapalhão, porque generais não estão livres de criar confusão.
Mas Pazuello é mais do que isso, é alguém sem base para fazer o que pediram que fizesse. É um especialista em logística que não sabe a hora de despachar um avião.
Pazuello é um militar sem habilitação para comandar a Saúde. Numa situação de normalidade, num governo normal, seria mandado embora.
Num governo anormal, numa situação de total anormalidade, é o sujeito adequado para o cargo. Pazuello faz o que Bolsonaro manda que faça. Bolsonaro não deseja ninguém menos pior do que Pazuello. É assim que a Saúde deve funcionar, ou não funcionar.