PD James, morta hoje aos 94 anos, foi uma de minhas paixões literárias.
Admirei-a sempre não apenas como escritora mas como mulher.
Como escritora, ela levou ao gênero policial um refinamento estilístico poucas vezes visto. Era como se, nela, se juntassem Agatha Christie e Jane Austen – esta sua romancista favorita.
O grande desafio de um escritor policial é criar um detetive notável, e PD James encantou seus leitores com Adam Dalgliesh, superintendente da Scotland Yard com genuíno talento poético.
No lado pessoal de PD James (PD deriva de Phyllis Dorothy), ela me conquistou imediatamente quando eu soube que escrevera seu primeiro romance depois dos 40 anos.
Até lá, ela estava ocupada em cuidar dos filhos, uma vez que o marido jamais se recuperou dos traumas derivados de sua participação na Segunda Guerra.
Com os filhos crescidos, ela achou que já podia se dedicar à sua vocação.
Ela já tinha quase 90 anos quando publicou seu último romance, no qual retomava, com uma trama policial, um clássico de Jane Austen, Morte em Pemberley, transformado em série pela BBC. (Permberley é a casa do protagonista de Orgulho e Preconceito, de Jane Austen.)
Morte em Pemberley, como vários outros romances de PD James, está no catálogo da Companhia das Letras.
Numa de suas últimas entrevistas, ela disse que continuava a escrever. “Escritor tem que escrever”, afirmou.
Escrevia a seu estilo: com uma máquina de escrever. Depois, ditava para um assistente. Dizia que ouvir o próprio texto a ajudava a refinar as sentenças.
Sobre por que optara pelos crimes, ela disse: “Não é você necessariamente que escolhe o gênero. É o gênero que escolhe você.” Tinha amor pelo que fazia: “Adoro levar ordem onde há desordem, e esta é a essência de um romance policial.”
Não se deve usar a palavra gênio gratuitamente, porque você a barateia.
Mas PD James foi, sem dúvida, um gênio.