Publicado originalmente no Facebook de Pedro Abramovay
A apreensão de 39kg de cocaína com um militar brasileiro na Espanha não é algo banal.
Não estou nem falando sobre o fato de ser no avião presidencial. Acho precipitado, claro, associar o caso ao presidente. Mas isso não faz do caso algo corriqueiro.
O tema de preocupação é a participação das forças armadas no tráfico de drogas. Em todos os países nos quais as Forças Armadas foram recrutadas para exercer um papel na Guerra às Drogas – principalmente na América Latina -, ocorreu uma corrupção do seu papel e setores militares passaram a ser cooptados pelas organizações criminosas.
México, Guatemala, Peru, Venezuela e Paraguai são alguns dos países que vivenciaram escândalos de militares envolvidos com tráfico de drogas após a decisão de militarizar o combate ao narcotráfico.
O episódio dos 39 kg ocorre depois de uma aposta muito grande no papel das Forças Armadas na segurança pública e no comabate ao tráfico de drogas. Muitos especialistas advertiram para o risco que se corria de se repetir o fenômeno no Brasil ao se jogar os militares, sem preparo para tal, na arena da segurança pública.
Advertimos, especialmente, para o risco de corrupção das forças armadas e envolvimento com o tráfico de drogas. Não porque estávamos torcendo contra. Não porque tenhamos bolas de cristal. Mas porque isso ocorreu nos outros países. Quais os cuidados específicos que foram tomados para que não ocorresse aqui? nenhum.
Seguir e compreender este caso e suas ramificações nas Forças Armadas é crucial se não quisermos aprofundar um processo de degeneração dos militares que foi testemunhado em tantos países da América Latina.