Pela “decência básica” nos debates entre jornalistas

Atualizado em 21 de maio de 2011 às 12:34
Na Roma de Sêneca, um defensor sublime de debates honestos

E subitamente me vejo tocado, como você pode notar, pelo conceito orwelliano de “common decency”, decência básica.

Acho que deveríamos estendê-lo aos debates entre jornalistas.

Devo dar azar, mas em todas as discussões em que entrei a decência foi agredida por meus desafetos. Nunca, lamentavelmente, enfrentei alguém que se circunscrevesse ao campo das idéias. Isso para mim é “decência básica”: o limite são as idéias.

Narrei, há pouco tempo, um caso no facebook. Sem ter sido chamado, um invasor irrompe em meu espaço e me ataca em coisas como o gorro “andino” com que apareço numa foto. Também disse que, ao publicar um artigo de Noam Chhomsky sobre a morte de bin Laden, eu estava fazendo “a apologia do terrorismo”.

A quem apelar?

Era meu espaço. Por que ele se deu ao trabalho de invadi-lo para espalhar infâmias?

Faltou decência básica.

Agora, vejo mais uma invasão, desta vez no blog. É um comentário que se refere exatamente ao texto que escrevi sobre as regras elementares de um debate entre jornalistas. Conto que aprendi com meu pai a ficar nas idéias.

Desta feita, o invasor – por que me lê?, me pergunto – depois de me atacar com argumentos de arquibancada diz que “meu sonho era ocupar a cadeira de TSC”.

TSC é Thomaz Souto Corrêa, um dos grandes editores da história da Abril. Gosto pessoalmente de Thomaz e o admiro profissionalmente. Disse mais de uma vez a ele o quanto eu era ruim numa disciplina na qual ele brilhava: a diplomacia corporativa. Cheguei a pedir que me ensinasse a melhorar nisso.

Mas jamais sonhei ocupar sua cadeira no final da carreira.

Cargos como o dele, e como os que ocupei por tantos anos, impedem você de escrever.  E empurram você a reuniões insuportáveis e a uma rotina burocrática que não quero nunca mais para mim.

Meu sonho, e desde há muitos anos, cabe numa palavra: escrever.

Londres me permitiu isso. Posso dizer, sem exagero, que nunca fui tão feliz como jornalista como hoje em Londres. O único período capaz de competir com este que vivo agora foi o tempo na Exame, nos anos 1990.

Não entrar na cabeça dos outros, não atribuir sonhos – isso são fundamentos da “decência básica”.

Ela recomenda vivamente que você não entre na casa – o blog, neste caso – de alguém para enchê-lo de infâmias.

Você entraria na sala de alguém para xingá-lo?

Se o nome que assina o comentário é real – nunca se sabe na internet –, é alguém que enquanto trabalhou nas áreas que comandei sistematicamente me tratava como “mestre”, a espinha dobrada.

De um modo geral, gosto de debates entre jornalistas. De alguma forma, eles contribuem para que a classe reveja certas coisas.

Mas é preciso enquadrá-los na “common decency” de Orwell.