Por Arnóbio Rocha
Pelé é um ser mitológico que se encaixa perfeitamente no arquétipo grego do herói, aquele que é o intermediário entre os homens e os deuses.
A trajetória de Pelé é de um herói. Muito cedo suas qualidades especiais se revelam, pois se destina a ser o representante de um povo, uma região e seus feitos serão cantados em versos e prosas por gerações.
Dito isso, vamos chover no molhado, afirmando: ninguém é maior que Pelé no futebol. Aliás, ele virou sinônimo de excelência nos esportes, referência de qualidade e genialidade.
Pelé fez nos gramados do mundo inteiro a maior propaganda positiva sobre o “selvagem” Brasil. Pelé é ainda no rosto mais identificado com o Brasil. Por sorte é um rosto negro, o que é uma mensagem inequívoca de nossas origens. Aliás, os três maiores gênios do esporte, Pelé, Jordan e Bolt, são negros, um tapa na cara dos racistas do mundo.
Pelé é o homem de todas as jogadas, de todos os gols, dos dribles desconcertantes e de ter se antecipado em décadas sobre a necessidade de ter condições atléticas perfeitas.
Ele unia velocidade, precisão, força e visão antecipada do que faria com a bola, sem precisar olhar para ela. A classe e elegância de ter a cabeça erguida impunha pavor aos adversários.
Sua inteligência de atleta era muito superior à dos demais. Tudo que fazia com a bola parecia tão simples, isso sem equipamentos de excelência e tecnologia atuais.
Pelé se construiu como alguém a ser reverenciado em qualquer campo. Seja com a camisa branca do Santos, a Amarela ou azul da seleção, o 10, porque ele é a nota máxima.
O herói é exagerado e suas atitudes são incompreendidas, pois ele também é humano e tem suas enormes contradições. Mesmo as que possamos objetar como vis não lhe tiram a condição de herói e humano.
Faz parte da jornada do herói o seu fim, doloroso, muitas vezes trágico, julgado, triste e sozinho, suas dores e vida escrutinadas com cores mais fortes. Por inveja ou exigência de seja um deus perfeito, esquecemos que ele é também humano.
A dualidade Edson e Pelé produziu erros para as nossas regras morais, mas a condenação muitas vezes é feita sem olhar para dentro de nossas limitações e falhas.
Pelé é brasileiro, negro, homem, machista, contraditório e bem abaixo dele, sou um igual.
Isso não muda o tamanho e a imensidão de Pelé.
Obrigado, senhor do futebol, rei, heroi ou apenas Pelé, pois com esse nome, nada precisa ser explicado.
Ele é Pelé!