A jornalista Evelyn Araripe levou um susto, mas viu que começa a se espalhar por São Paulo solidariedade pelos ciclistas.
O artigo abaixo, de autoria da jornalista e ciclista Evelyn Araripe, foi publicado, originalmente, no site Pedalante.
Hoje foi a primeira vez na minha vida que eu achei que iam me matar de propósito no trânsito.
Em plena Rua dos Pinheiros, em São Paulo, uma mulher começou a me insultar cada vez que passava por mim. Pois, sim, eu ultrapassava ela em vários momentos e ela me alcançava novamente para me insultar com frases assim: “Sai da rua”, “Você vai morrer”, “Sai da minha frente”. Uma baba levava um bebê no colo no banco de trás. (O uniforme branco na mulher negra dava a entender que ela era funcionária da motorista).
Incrivelmente, consegui juntar calma e maturidade e parar no semáforo ao lado dela para conversar. Ela argumentou que eu estava atrapalhando. Retruquei que estava no meu direito e que ela devia me ultrapassar a uma distância segura. Em todas as ultrapassagens ela fazia questão de me dar uma mega fina. Ela simplesmente concluiu em tom sarcástico: “Ohhhh minha linda, eu não vou atrapalhar os outros carros só para te ultrapassar com segurança!!!”
Disse para ela tomar cuidado, pois atitudes como aquela iam fazer um ciclista detestá-la, e ela poderia perder um retrovisor ou um parabrisa por causa da sua ignorância. Ela riu. Eu segui em frente.
Poucos segundos bastaram não só para ela me alcançar, mas para o carro em cima de mim. Ela estava prestes a me esmagar entre o carro dela e um carro estacionado na rua. Naquela hora pensei:“Morri!”
Um pedestre na esquina gritou contra a mulher, e ela o xingou. No mesmo instante chegaram dois rapazes de moto. Foi uma coisa meio filme de super heróis, quando a mocinha está em apuros e aparece alguém para salvá-la.
Um dos rapazes esbravejou em um tom assustador para ela: “Qual o seu problema? Você é louca? Vai matar a ciclista?” Ela se assustou e voltou para o lugar dela. Eu segui pedalando tremendo da cabeça aos pés.
O motociclista, não satisfeito por ter me salvado, continuou conduzindo a moto lentamente ao lado da motorista, xingando-a e dizendo que não sairia de perto enquanto ela não se afastasse de mim. Ela tremeu e virou na esquina seguinte para se livrar daquela situação em que ela mesma se colocou.
Agradeci no semáforo o motociclista. Ele disse que não precisava agradecer, pois as pessoas estão doentes nesse trânsito e precisamos proteger uns aos outros.
Hoje aquela motorista provavelmente aprendeu que já vivemos em uma cidade e em uma sociedade onde algumas agressões contra os ciclistas não são mais aceitas. Fiquei feliz em perceber que cada dia mais as pessoas enxergam os ciclistas paulistanos também como sujeitos com direitos.
Portanto, atenção, biciclofóbicos. A cidade não está mais disposta a tolerar as suas agressões.
Espero que o bebê do banco de traz do carro concorde comigo!