Perdida com fracasso de “Travessia”, Glória Perez passa o constrangimento dos bolsonaristas

Atualizado em 5 de janeiro de 2023 às 0:25
As bolsonaristas Glória Perez e Cássia Kis, de “Travessia”: fracasso

Após o sucesso de “Pantanal”, era muito difícil uma novela das 9 da Rede Globo conseguir manter tanto os altos índices de audiência, quanto a ótima crítica ao folhetim que era um remake da novela da Manchete do início da década de 1990.

“Travessia”, novela escrita por Glória Perez, não só não conseguiu manter este nível, como vem quebrando recordes negativos de audiência. E a autora, bolsonarista de carteirinha, parece não estar com muita paciência.

Na última terça (4), a página “Choquei”, que reproduz notícias no Twitter, postou a informação divulgada amplamente de que o capítulo de 31 de dezembro havia registrado apenas 14,48 de média de audiência, o pior já registrado para uma atração do horário. A autora replicou a mensagem tentando lacrar corringido a grafia da palavra “história” na postagem.

Logo após o comentário de Glória, os internautas lembraram que, desde o Novo Acordo Ortográfico, assinado em 1990, colocado em prática em 2009 e obrigatório desde 2016, o uso do “h” maiúsculo ou minúsculo na palavra é opcional.

Talvez isso seja até um emblema dos últimos trabalhos da autora, que se notabilizou por tramas inconsistentes, com excesso de personagens, invenções bizarras e atuações ruins até de atores muito bons.

Em “Travessia”, dá para se enumerar estes erros. A protagonista Brisa, vivida por Lucy Alves, não é cativante. A atuação da herdeira Jade Picon, forçada por Glória a um papel de protagonismo sem nunca ter feito um trabalho como atriz, é de doer os olhos.

O sotaque carioca forçado por uma paulistana rica gerou diversos memes na internet. Até mesmo Helô (Giovanna Antonelli) e Stênio (Alexandre Nero), requentados por Glória dez anos depois da novela “Salve Jorge”, não conseguem mais atrair brilho aos olhos do público.

A temática das fake news, que para a autora é só uma brincadeira inocente de um adolescente de 14 anos, desinforma, pois todos nós sabemos que a coisa virou uma verdadeira indústria, que inclusive levou um político que ela apoia ao poder.

E talvez nisso o pensamento bolsonarista da autora traga um elemento perigoso. Ao transformar as notícias falsas em uma brincadeira de um nerdola na internet, ela isenta as máquinas de disparo em massa que atingem redes como o WhatsApp e Telegram, e que influenciaram os dois últimos processos eleitorais do Brasil.

Em 2018 isso ocorreu de forma devastadora e em 2022, principalmente na véspera do primeiro turno, o efeito foi terrível, visando acabar com reputações e difundir as ideias da extrema-direita em todo o mundo.

Mas aí seria demais cobrar essa coerência de Glória, que apoiou Bolsonaro em 2018 e 2022, mesmo com toda a devastação e apesar de Guilherme de Pádua, assassino de sua filha, Daniella, em 1992, ter sido um golpista fanático.

Por tudo isso, talvez tenha restado para Glória Perez o ataque gratuito em uma questão em que ela não estava certa.