O economista Márcio Pochmann foi nomeado para a presidência do IBGE.
A grita da imprensa contra a nomeação foi enorme. Pochmann é um economista combativo, que não esconde, muito pelo contrário, seus desacordos com a ortodoxia neoliberal reinante.
Um folclórico colunista do jornal Folha de S. Paulo classificou-o hoje de “ideológico”. Engraçado. Não lembro do adjetivo ter sido aplicado a Paulo Guedes. É que o fundamentalismo de mercado é “ciência”. Tudo que se opõe a ele é “ideologia”.
Mas não bastava acusar Pochmann de ser “heterodoxo”. Depois dos últimos anos, esse discurso não cola mais. Tentaram fazer da nomeação uma crise com Simone Tebet, a quem o IBGE é subordinado, mas a ministra, que é esperta, não deu corda. Afinal, o presidente é Lula – e foi ele quem indicou Pochmann.
Então forjaram a “denúncia” de que Pochmann poderia maquiar os dados da inflação. Uma acusação gravíssima, baseada em quê? Em nada.
Não há absolutamente nada, na trajetória de Pochmann, que justifique a insinuação. Nem se imagina que o presidente do IBGE teria esse poder.
Quem lançou a acusação foi Malu Gaspar, de O Globo, com um “há quem cite o temor”, em meio a um artigo venenoso recheado de fontes anônimas.
Em seguida, Miriam Leitão, ela mesma, aderiu à história, repetindo a calúnia. Achou que, contra Pochmann, valia a pena rasgar a fantasia de defensora da democracia que tentou vestir nesses últimos tempos.
Mau-caratismo puro. Pra quem tem memória, um pouquinho só, não causou espanto.
Enfim, entrou em jogo o colunista folclórico da Folha citado antes. Depois de longo nariz de cera com bordão em latim, como é de seu feitio (ele gosta de posar de erudito), critica a nomeação e conclui: “Pôr à frente do IBGE uma figura que gera ruído sobre a qualidade dos dados deveria ser carta fora do baralho.”
É brilhante. As aleivosias de jornalistas desonestos geram o “ruído”. E depois eles mesmos evocam o “ruído” para desqualificar a nomeação.
O que colocou em risco a qualidade dos dados do IBGE foi a gestão de Paulo Guedes, que chegou a cortar 99% da verba do órgão e não perdia uma oportunidade para criticá-lo publicamente.
Mas isso não incomodava. Quem incomoda é Pochmann, que deve ser ostracizado por não comungar da cartilha ultraliberal que desgraçou o Brasil.
A gente reclama dos exageros dos identitaristas. Mas a prática do cancelamento é muito mais desenvolvida na direita. Economistas progressistas que o digam.