Quem assistiu à reportagem do Jornal Nacional sobre a derrota da Lava Jato no STF deve ter notado que a Globo dedicou um tempo excessivo à manifestação de um ministro em relação aos demais.
Luís Roberto Barroso ocupou nada mais, nada menos do que 4 minutos e oito segundos, uma eternidade em tempo de televisão, quase o mesmo espaço ocupado por presidentes quando convocam rede nacional, normalmente em torno de cinco minutos.
Com voto oposto ao de Barroso, Gilmar Mendes mereceu oito segundos de fala, o menor entre todos os ministros. Alexandre de Moraes ficou com 59 segundos, Luiz Fux teve 45 segundos; Ricardo Lewandowski, 28; Cármem Lúcia, 24; Rosa Weber, 26; Celso de Mello, 14.
O presidente da corte, Dias Toffoli, mereceu 40 segundos.
A reportagem teve cerca de 12 minutos minutos. Barroso, portanto, ocupou um terço do espaço dedicado à cobertura de uma sessão histórica do STF.
Quem acompanhou os trabalhos percebeu que o desempenho dele foi fraco, fez discurso político no lugar de argumentos jurídicos e sofreu intervenções relevantes e técnicas de outro ministro, Ricardo Lewandowski.
Foi, portanto, um personagem menor, ao contrário de Gilmar Mendes, um dos destaques da sessão.
Mas, na cobertura da Globo, quem apareceu gigante foi Barroso.
A emissora se manteve fiel à sua já tradicional desonestidade jornalística, caracterizada por ter sido o veículo oficial da ditadura, por ter dado espaço a uma tentativa de fraude na eleição de Leonel Brizola no Rio de Janeiro, por ter distorcido a cobertura de uma manifestação pelas diretas já e por ter feito uma edição criminosa do último debate da eleição presidencial de 1989, em favor de Fernando Collor e em detrimento de Lula.
A Globo não faz jornalismo, ela faz lobby e usa jornalistas nesta tarefa.
O que ela quer agora é emparedar o STF para que, na proposta que Dias Toffoli ficou de apresentar na semana que vem, se abra espaço para a sobrevida da Lava Jato.
A família Marinho, dona da emissora, tem razões objetivas para proteger a operação que é vista pela maioria dos juristas como uma aberração do direito.
A família foi protegida pelos procuradores da Lava Jato, que têm em mãos documentos que comprovam a também conhecida desonestidade do grupo empresarial.
Em 2016, quando tentou pegar Lula nas primeiras diligências sobre o triplex do Guarujá, encontrou a offshore de Paula Marinho, filha de João Roberto Marinho, um dos donos da emissora.
O documento estava no escritório Mossack Fonseca em São Paulo, cuja especialidade é criar e manter empresas de fachada para ocultar patrimônio e sonegar impostos.
A offshore encontrada é dona do triplex da família Marinho em Parati, construído ilegalmente em uma área de proteção ambiental da região.
Além de proteger seus controladores, a Lava Jato deu à Globo material para atingir um antigo adversário, Lula, e manipular a opinião pública para que seu projeto popular de governo — de desenvolvimento com inclusão social — fosse destruído.
Agora se sabe que o material fornecido pela Lava Jato era distorcido, como o diálogo pinçado para enganar a opinião pública e autoridades no episódio da nomeação de Lula para a chefia da Casa Civil de Dilma Rousseff.
Mas, desde quando, para atingir seus adversários, a Globo se preocupou com a integridade das informações divulgadas?
Como seu viu em mais esta edição desonesta, a Globo usa um antigo prestador de serviços, Barroso, para tentar manter a Lava Jato com a aura de combatente da corrupção e impedir que o público veja sua verdadeira face: a de projeto de poder.
É hora de parar não só a Lava Jato e suas práticas criminosas. É preciso também parar a Globo, e fazê-la ver que é um concessionária de serviço público.
Não é o Brasil concessão da Globo, mas o contrário. E assim deve ser em qualquer nação civilizada.