Publicado originalmente no site da Rede Brasil Atual (RBA)
POR TIAGO PEREIRA
Em balanço divulgado nesta quarta-feira (19), a Petrobras anunciou lucro recorde de R$ 40,1 bilhões em 2019, crescimento de 55,7% em relação a 2018. Os números foram comemorados pelo governo, mercado financeiro e mídia tradicional. Mas revelam distorções importantes na atuação da estatal.
Grande parte desse montante se deve à venda de ativos, que somaram R$ 67,1 bilhões. Além da venda de ações por parte do BNDES e da Caixa Econômica Federal, a empresa concluiu a venda da Transportadora Associada de Gás (TAG) e da BR Distribuidora.
Segundo a subseção do Dieese na Federação Única dos Petroleiros (FUP-Dieese), são resultados que não vão se repetir nos próximos balanços. “Pelo contrário, os lucros que essas empresas dariam, não vão dar mais. Não é duradouro”, afirmou o economista e técnico do Dieese Cloviomar Cararine, em participação no Jornal Brasil Atual, nesta sexta-feira (21).
A parte duradoura do lucro, oriunda da exploração dos poços do pré-sal, que hoje representam mais de 60% da produção, tem pouco a ver com a atual gestão da Petrobras. São investimentos de longo prazo que decorrem desde 2006, quando esses campos foram descobertos.
Falso recorde
Cararine também relativizou o “recorde” anunciado. Convertido em dólar, o lucro total chegaria a US$ 10,2 bi. Entre 2005 e 2013, os lucros da Petrobras ultrapassaram a casa dos US$ 12 bilhões. Em 2010, chegaram a US$ 35 bilhões.
“Não é o maior lucro da história”, aponta o técnico do Dieese. Mais importante do que o valor total, é entender como a empresa chegou a esse número, segundo ele. Dentre os fatores, estão o aumento dos preços dos combustíveis e a redução nos investimentos, que se somam à venda de ativos.
Preços
“Para se ter uma ideia, entre 1º de janeiro e 31 de dezembro de 2019, a Petrobras reajustou os preços da gasolina nas refinarias em 28%, do Diesel, em 27%, e do GLP, em 10%, para uma inflação que ficou em menos 4%”, detalha o economista. Concomitantemente, a empresa vem reduzindo a capacidade de produção das refinarias e aumentando a importação de derivados, enquanto aumenta a exportação de petróleo cru.
Desinvestimento e desemprego
Em 2019, a empresa investiu R$ 112,9 bilhões, mas R$ 68,8 bilhões foram destinados para a aquisição de campos do pré-sal. Entre 2009 e 2015, a média de investimento produtivo foi de R$ 80 bi por ano, em valores não corrigidos. Em 2013, alcançou a casa dos R$ 100 bi, também em valores não atualizados.
“Com isso, obras começadas estão paradas, não gerando renda para estados e municípios, e empregos estão sendo perdidos. A empresa chega em 2019 com 103 mil trabalhadores terceirizados, quando já teve 360 mil. Em torno de 58 mil trabalhadores próprios, enquanto já teve mais de 80 mil. Se olharmos o volume de empregos perdidos de 2013 para cá, chegaríamos a um volume de 280 mil empregos a menos”, afirma Cararine.