Segundo a revista Piauí, relatórios da PF mostram que durante a busca e apreensão, realizadas na Operação Hefesto, os agentes aprenderam, no endereço do motorista Wanderson de Jesus, um caderno-caixa, mostrando saldos, repasses, destinatários e datas.
As anotações referem-se aos meses de abril e maio deste ano e contam com o nome “Arthur”, que os investigadores suspeitam referir-se ao deputado Arthur Lira. O primeiro nome do presidente da Câmara aparece onze vezes e vem acompanhado dos maiores valores, que totalizam pouco mais de 265 mil reais. O ex-assessor e braço direito de Lira, Luciano Cavalcante, é investigado suspeito de corrupção no caso dos kits de robótica para escolas em Alagoas, base do presidente da Câmara, que não tinham nem água encanada ou internet.
Nas anotações do mês de abril, consta que “Arthur” recebeu 20 mil reais no dia 8. Uma semana depois, foram mais 30 mil reais. No dia 17 de abril, houve um gasto de R$ 3.652,00 para “Hotel Emiliano = Arthur”.
O deputado se torna ainda mais suspeito levando em consideração que quando vai a São Paulo, costuma se hospedar no Hotel Emiliano, nos Jardins. Além disso, os registros da Aeronáutica mostram que no exato dia 17 Arthur Lira embarcou num avião da FAB em Brasília com destino a São Paulo.
O dia 28 de abril registra o maior volume de recursos, com quatro repasses no total para “Arthur”: R$ 6.026,87 para “carro Arthur”; R$ 844,47 para “Pix almoço […] Arthur”; R$ 29.200 em favor de “Djair = Arthur”; 100 mil reais para “Arthur”.
As anotações ainda registram dois pagamentos adicionais. No dia 10 de abril, houve o repasse de R$ 12.509,71 para o “Hotel Emiliano”, mas não há menção ao nome de “Arthur”.
Em outra coincidência, os registros da Aeronáutica mostram que o deputado viajou para São Paulo no dia 4 de abril, voando em avião da FAB de Maceió para São Paulo, de onde voou para Brasília no dia 9 de abril. Neste período, passou por uma cirurgia que demandou repouso na capital paulista.
Outro pagamento foi feito no dia 29 de abril, no valor de 4,8 mil reais, para “telefone – D. Ivonete”. Agentes da PF desconfiam que seja uma menção à mãe de Arthur Lira, que se chama “Ivanete”, com “a” em vez de “o”.
As anotações de maio registram gastos menores. No dia 2 houve um repasse de 8.170 reais para “pagamento Fabio engenheiro/Arthur”. No dia seguinte, foram 23.850 reais para “materiais elétricos fazenda = Arthur”. Em 5 de maio, houve dois pagamentos: um de 24.884 reais para “Fabio engenheiro Arthur” e mais 8,5 mil reais para “pagamento irrigação = Arthur”. O presidente da Câmara tem fazendas em Alagoas.
Além do caderno-caixa, os agentes da PF encontraram, no endereço de Wanderson de Jesus, papéis relacionados ao caso dos kits de robótica. Os policiais apreenderam pouco mais de 150 mil reais em espécie e, também, um manuscrito no qual os signatários declaram ter recebido do deputado Arthur Lira “a importância de r$ 40.000,00 (quarenta mil reais) referente à nova área de 11,5 tarefas [uma medida agrária] do Sr. Manoel Pacheco Filho e Joana Martins Pacheco, pelo qual dou plena e total quitação”. Não há data no recibo.
A Operação Hefesto investiga fraude em licitação e desvio de 8 milhões de reais na compra de kits de robótica pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Arthur Lira não é diretamente investigado, mas a documentação apreendida pelos agentes reforça a possibilidade de sua conexão com o esquema.