PF desmonta teorias conspiratórias e reafirma que Adélio agiu sozinho no atentado a Bolsonaro

Atualizado em 22 de setembro de 2018 às 22:41

Reportagem de Rubens Valente, publicada há pouco na Folha de S. Paulo, desmonta as teorias conspiratórias em torno da facada em Jair Bolsonaro. Um trecho da reportagem:

A Polícia Federal afastou a suspeita de que Adélio Bispo de Oliveira, que no último dia 6 tentou matar o candidato Jair Bolsonaro (PSL-RJ) em Juiz de Fora (MG), tenha recebido pagamento em sua conta bancária para executar o crime.

A investigação concluiu que o dinheiro localizado com Oliveira tem apenas “origem sustentável”, como uma rescisão recente pelo trabalho em um escritório de advocacia, e remuneração pelo trabalho de garçom, pelo qual recebia cerca de R$ 70 por dia.

A PF apurou que o cartão de crédito internacional encontrado em poder de Oliveira na verdade nunca foi utilizado e foi emitido automaticamente pelo banco logo após o valor da mesma rescisão trabalhista ter sido depositado em sua conta.

Em teorias conspiratórias compartilhadas em redes sociais, o cartão também foi citado como suposta evidência de que Oliveira teria recebido dinheiro de origem suspeita.

O ex-delegado da Polícia Federal Fernando Francischini, hoje deputado federal aliado de Bolsonaro, é o que mais tem divulgado essas versões delirantes, assim como a jornalista Joyce Hasselmann, candidata a deputada federal pelo partido de Bolsonaro.

O site O Antagonista, de extrema direita, também dá vazão a essas versões fantasiosas e diz que, ao concluir o inquérito, a PF pode definir a eleição de Bolsonaro no primeiro turno.

Fez um carnaval em cima de uma informação de que Adélia tem registro de entrada na Câmara dos Deputados em agosto de 2013. A Câmara dos Deputados tem mais gente circulando diariamente do que muitas cidades médias do Brasil.

A reportagem de Rubens Valente, feita com base em fontes da PF, desmonta outros pontos da teoria da conspiração, veiculadas em posts no Facebook:

A PF também concluiu que o computador pessoal localizado com Oliveira não era recente nem caro, ao contrário do propagado em redes sociais. O aparelho era antigo e estava quebrado, tendo sido usado pela última vez no ano passado. Dos quatros telefones celulares encontrados com Oliveira, apenas dois estavam em atividade, e nenhum foi comprado nas semanas anteriores ao crime.

Segundo outra conclusão da PF, em razão dos acertos trabalhistas recentes Oliveira tinha condições financeiras próprias de pagar adiantado R$ 400 por hospedagem numa pensão em Juiz de Fora, onde ele disse que procurava emprego. Foi apreendido com Oliveira um recibo que comprova o pagamento.

Também foram investigadas todas as pessoas citadas em redes sociais como supostos cúmplices que teriam repassado a faca a Oliveira no dia do atentado. A PF descartou todas as informações, que eram falsas. Pelo menos uma mulher inocente marcada em redes sociais foi perseguida, recebeu ameaças e teve que procurar a PF para obter proteção.

A opção de Oliveira por usar uma faca para tentar matar o presidenciável pode ser explicada por outro aspecto da vida do preso levantado durante a investigação da PF.

Em um açougue em que Oliveira trabalhou em Curitiba (PR), a PF apurou que Oliveira era conhecido por manejar muito bem facas. Normalmente um novo contratado recebia um “padrinho”, responsável por tutelar o novo cortador de carnes. No caso de Oliveira, o próprio açougue dispensou o uso do “padrinho”, ao constatar que ela sabia usar as lâminas.

Oliveira também teria trabalhado como sushiman, preparador de carnes de peixe em restaurantes japoneses, o que também demanda um bom uso de facas.

(…)

O presidente do inquérito e também delegado regional de Combate ao Crime Organizado da PF de Minas Gerais, Rodrigo Morais, informou que o inquérito que trata do ato do crime em si deverá ser finalizado até a próxima sexta-feira (28), mas ao mesmo tempo será aberto um novo inquérito para investigar supostos mandantes ou pessoas que teriam instigado o crime, ainda que não exista nenhuma indicação sobre isso até o momento.

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Com o novo inquérito, se houver, a especulação vai continuar.