PF encontra documento com passo a passo para golpe de Estado no celular de Mauro Cid

Atualizado em 15 de junho de 2023 às 19:40
Mauro Cid fardado com expressão desconfiada
O ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, Mauro Cid. Foto: Reprodução

Um arquivo encontrado no celular de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, mostra os detalhes do passo a passo para um golpe de Estado. O documento, intitulado “Forças Armadas como poder moderador”, tinha como base uma tese de que os militares poderiam ser convocados para mediar um conflito entre os poderes. A informação é da revista Veja.

Segundo o arquivo, a derrota de Bolsonaro teria sido causada por decisões inconstitucionais proferidas durante a campanha eleitoral e isso daria às Forças Armadas o poder de intervir.

“Entende-se que o conjunto dos fatos descritos seriam capazes de demonstrar não só uma atuação abusiva do Judiciário, mas também abuso praticado pelos maiores conglomerados de mídia brasileira, de modo a influenciar diretamente o eleitor e o resultado da eleição em favor de determinado candidato”, diz o texto.

O documento também cita um passo a passo do golpe. Inicialmente, seria nomeado um interventor que teria poderes absolutos e seria responsável pelo “restabelecimento da ordem constitucional”. Em seguida, as ações consideradas inconstitucionais, como a diplomação de Lula, seriam suspensas.

O guia também inclui o afastamento de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) como uma etapa do golpe: Alexandre de Moraes, Cármen Lúcia e Ricardo Lewandowski seriam retirados da Corte, enquanto Kasssio Nunes Marques, André Mendonça e Dias Toffoli abririam inquéritos para investigar a conduta de cada um dos colegas e marcariam uma nova eleição presidencial.

Documento encontrado no celular de Mauro Cid expõe passo a passo para golpe de Estado. Foto: Reprodução/Veja

Um segundo documento foi encontrado com planos para um golpe no celular de Cid. O arquivo previa a hipótese de estado de sítio e citava nominalmente Moraes para decretar a medida. “Nestas eleições, o ministro Alexandre de Moraes nunca poderia ter presidido o TSE, uma vez que ele e Geraldo Alckmin possuem vínculos de longa data, como todos sabem”, diz um trecho do documento.

Os magistrados foram classificados como militantes que tomaram decisões contrárias aos interesses de Bolsonaro nas eleições. Não se sabe quem é o autor do texto e o roteiro faz parte de um relatório de 66 páginas produzido pela Diretoria de Inteligência da Polícia Federal.

Um outro nome aparece no celular de Cid como envolvido nos planos de golpe: o coronel Jean Lawand Junior, subchefe do Estado-Maior do Exército. Ele trocou uma série de mensagens depois das eleições com o então ajudante de ordens de Bolsonaro.

Ele diz que Cid precisa pedir para Bolsonaro “dar a ordem” e “convencer o 01 a salvar esse país”. “Ele tem que dar a ordem, irmão. Não tem como não ser cumprida”, escreveu. Em resposta, o auxiliar do ex-presidente disse que “está na luta”.

“Pelo amor de Deus, Cidão. Pelo amor de Deus, faz alguma coisa, cara. Convence ele a fazer. Ele não pode recuar agora. Ele não tem nada a perder. Ele vai ser preso. O presidente vai ser preso. E, pior, na Papuda, cara”, diz o coronel em seguida, insistindo.

O coronel Jean Lawand Junior pede que Cid convença Bolsonaro a “dar a ordem” para golpe de Estado. Foto: Reprodução/Veja

Cid diz que Bolsonaro não deu uma ordem de intervenção militar porque “não confia no ACE”, uma referência ao Alto-Comando do Exército. O coronel insistiu na tese até o fim do mandato de Bolsonaro e disse que o general Edson Skora Rosty, subcomandante de Operações Terrestres, teria lhe assegurado que o Exército cumpriria a ordem de golpe “prontamente”. “Se a cúpula do EB não está com ele, de divisão para baixo está”, afirmou Lawand.

Coronel diz que Bolsonaro teria apoio do Exército para um golpe. Foto: Reprodução/Veja

O último diálogo entre Cid e Lawand que consta no celular do ex-ajudante ocorreu em 21 de dezembro. Na ocasião, o coronel lamentou que, apesar dos esforços, o golpe não ocorreria.

“Soube agora que não vai sair nada. Decepção, irmão. Entregamos o país aos bandidos”, afirma. Em resposta, Cid também lamenta: “Infelizmente”.

Coronel Lawand lamenta que golpe não ocorreu: “Decepção”. Foto: Reprodução/Veja

O relatório da PF ainda destaca mensagens de Gabriela Cid, mulher do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que também teve o celular apreendido em operação. Ela fez convocações para que bolsonaristas “invadam” Brasília, pregou paralisação dos caminhoneiros e atacou Alexandre de Moraes.

“Estamos diante de um momento tenso onde temos que pressionar o Congresso”, afirmou em mensagem a Ticiana Villas Bôas, filha do general Eduardo Villas Bôas, que respondeu: “Ou isso ou a queda de Moraes”.

Cid também participava de grupo com militares da ativa, intitulado “Dosssss!”. A PF não identificou todos os membros, mas encontrou mensagens com pregações golpistas e ameaças ao “careca”, como chamam Moraes. Estejamos prontos… A ruptura institucional já ocorreu… Tudo que for feito agora, da parte do PR, FA e tudo mais, não vai parar a revolução do povo”, diz um dos membros do espaço.

Em outra mensagem, um terceiro membro do grupo questiona: “Vai ter careca sendo arrastado por blindado em Brasília?”.

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