PF investiga atuação de Bolsonaro na elaboração de decreto golpista após delação de Cid

Atualizado em 11 de outubro de 2023 às 7:03
Jair Bolsonaro e Mauro Cid. Foto: Reprodução

A Polícia Federal (PF) investiga o relato do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), de que o ex-presidente atuou diretamente na discussão da elaboração de um decreto golpista para impedir a troca de governo após as eleições de 2022.

Segundo depoimento de Cid, o ex-chefe do Executivo solicitou modificações em um rascunho de documento que abordava a detenção de autoridades e a realização de novas eleições no país. As informações foram divulgadas pelo jornal O Globo.

Cid fechou um acordo de delação premiada com a PF, homologado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Os fatos narrados na colaboração estão sendo checados pelos investigadores.

Com base no depoimento de três fontes com acesso ao conteúdo da declaração de Cid, foi revelado que Bolsonaro recebeu um rascunho de decreto de cunho golpista, elaborado por Filipe Martins, ex-assessor da Presidência, que delineava várias supostas interferências do Poder Judiciário no Poder Executivo e sugeria medidas anti-democráticas.

O esboço desse documento, conforme descrito pelo militar, incluía a convocação de novas eleições e a prisão de autoridades, embora sem esclarecer quem executaria essas ações.

De acordo com o relato de Cid, após examinar o rascunho, Bolsonaro solicitou alterações na estrutura do texto, mantendo apenas a convocação de novas eleições e a prisão de Moraes, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), enquanto eliminando outras autoridades relacionadas no decreto.

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Jair Bolsonaro e Mauro Cid. Foto: Reprodução

O ex-ajudante de ordens revelou que só tomou conhecimento da existência do rascunho do documento quando Filipe Martins lhe apresentou uma versão impressa e digital para que as alterações solicitadas pelo ex-presidente fossem feitas.

Cid ainda disse que Martins voltou posteriormente com uma versão revisada do texto, conforme solicitado por Bolsonaro. O militar também informou que o ex-capitão concordou com a mudança realizada na minuta e convocou os comandantes das Forças Armadas para discutir a medida anti-democrática.

Em uma reunião entre Bolsonaro e os líderes das Forças Armadas, o almirante Almir Garnier Santos, que então comandava a Marinha, teria expressado sua disposição de apoiar tal chamado, enquanto o responsável pelo Exército na época, general Freire Gomes, declarou que não aderiria a um possível plano golpista.

Cid afirmou à PF que a ideia não foi implementada devido à falta de apoio tanto do general quanto do comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior.

Na declaração, o bolsonarista também revelou que o ex-mandatário manteve várias reuniões com generais fora de sua agenda oficial após o segundo turno das eleições.

Segundo ele, Bolsonaro desejava que seus apoiadores não deixassem os acampamentos em frente aos quartéis, pois acreditava que encontraria evidências de fraude nas urnas eletrônicas, o que nunca se concretizou, e precisava manter o apoio popular para questionar o processo eleitoral.

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