A investigação da Polícia Federal no caso da “Abin paralela” aponta para uma possível associação dos US$ 172 mil encontrados em espécie na residência do então número 3 da agência com um direcionamento atípico de verba sigilosa para o gabinete do ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), hoje deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ).
O relatório, mantido em sigilo e acessado pela Folha de S.Paulo, sugere a hipótese de desvio da verba usada em operações de inteligência para explicar a origem do dinheiro.
Durante uma busca e apreensão realizada em outubro, a PF encontrou o montante na casa do então secretário de planejamento de gestão da Abin, Paulo Maurício Fortunato. O relatório aponta para a falta de identificação da origem dos dólares, levantando a possibilidade de outros delitos além do caso do software espião FirstMile.
A PF observou que as notas de dólar estavam em condições similares e divididas em blocos de séries distintas, o que sugere a participação de instituições na obtenção do dinheiro. O depoimento de Rodrigo Colli, ex-servidor da Abin, também é mencionado, indicando um possível direcionamento de verba sigilosa para o gabinete de Ramagem, conforme relatos internos.
Tanto Ramagem quanto Fortunato negaram qualquer envolvimento ou acesso aos softwares de espionagem da Abin. Ramagem, em entrevista à GloboNews, refutou as acusações, destacando a falta de provas concretas contra ele. Fortunato optou por permanecer em silêncio durante o depoimento à PF.
Após a análise do relatório da PF, o ministro Alexandre de Moraes autorizou uma segunda operação de busca e apreensão, desta vez nos endereços de Ramagem, entre outros. Embora tenha descartado o afastamento de Ramagem do cargo de deputado federal até o momento, o magistrado deixou em aberto a possibilidade de reconsiderar a medida, caso haja interferência nas investigações por parte do parlamentar.