Para João Cezar de Castro Rocha, o plágio da música de Martinho da Vila mostra “hierarquias do mundo cultural”. Segundo ele, “[é] como se criações de países ‘não centrais’ não tivessem assinatura”.
Ele é escritor, historiador, enxadrista e professor de literatura comparada. Para o especialista, assim como alguns casos anteriores de obras brasileiras sendo roubadas, isso mostra que alguns países são vistos como “sem assinatura”.
“Esses plágios mostram que, no plano da cultura, as hierarquias se mantêm e a assinatura de artistas de países ‘não centrais’ não é vista como tendo valor! Absurdo, mas é assim que ocorre. Por isso, processar plagiadores é um gesto político de peso”, afirma.
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Além de Martinho da Vila, outros artistas brasileiros foram copiados
O professor lembra de dois casos além de Martinho da Vila. Yann Martel, com “As aventuras de Pi”, copiou obra de Moacyr Scliar, “Max e os felinos”. A obra foi levada ao cinema e teve grande sucesso. Scliar não processou Martel porque ele reconheceu a “influência”.
Também cita o romance “A sucessora” (1934), de Carolina Nabuco. A obra foi copiada por Daphne du Maurier em “Rebecca” (1938). Em 1940, o livro virou filme, nas mãos de Alfred Hitchcock e ganhou o Oscar em 1941. João lembra que o caso não se tratou de “uma grande coincidência”.
“Carolina Nabuco recusou a oferta. E decidiu não processar Daphne du Maurier. Talvez devesse: nem tanto por ela quanto pela valorização da literatura brasileira”, avalia.
2. Recordemos o caso do plágio que Yann Martel fez do romance de Moacyr Scliar, “Max e os felinos”. Martel chamou seu romance “As aventuras de Pi”, levado ao cinema com grande êxito. Scliar desistiu do processo porque Martel reconheceu a “influência”. https://t.co/R1Sb5jfHDP
— João Cezar de Castro Rocha (@joaocezar1965) September 11, 2021
4. Nesse ano Alfred Hitchcock levou o romance às telas, com enorme sucesso, ganhando o Oscar em 1941. O New York Times publicou uma longa matéria assinalando as “incríveis coincidências” entre os dois romances. O estúdio ofereceu dinheiro à brasileira https://t.co/dfv5AvaZrA
— João Cezar de Castro Rocha (@joaocezar1965) September 11, 2021
6. Poderia dar muitos exemplos! Esses plágios mostram que, no plano da cultura, as hierarquias se mantêm e a assinatura de artistas de países “não centrais” não é vista como tendo valor! Absurdo, mas é assim que ocorre. Por isso, processar plagiadores é um gesto político de peso.
— João Cezar de Castro Rocha (@joaocezar1965) September 11, 2021