Pluralidade perdida

Atualizado em 24 de novembro de 2010 às 9:42
Murdoch com sua jovem mulher chinesa

Guilherme Fiúza, na Época, chegou a uma conclusão interessante: ele estava certo e 56 milhões de pessoas que votaram em Dilma errados.

Isso antes de ela se tornar presidente.

O que significava que Fiúza iria torcer para que Dilma confirmasse, na presidência, que ele estava com a razão. Já dava para imaginar, diante de cada crise, Fiúza exclamar, triunfal: “Eu não disse?”

Fiúza falava nos empregos dados aos “companheiros”. Falar em “aparelhamento” virou lugar comum. É como se os demais partidos preenchessem os cargos, magnaninamente, com pessoas de fora. Serra, se fosse eleito, não optaria por pessoas do PSDB.

Essa discussão rasa costuma ignorar fatos de extrema relevância. Lula nomeou Henrique Meirelles para o Banco Central e Celso Amorim para as relações exteriores, dois cargos fundamentais, sem que ambos tivessem nenhuma ligação com o PT.

Isso não conta?

O problema não está especificamente em Fiúza. Está no desequilíbrio de opiniões que foi tomando de assalto a grande mídia brasileira. A direita está maciçamente representada em editores e colunistas. Fiúza, Jabor, Merval, Kamel, Azevedo, Pondé, Magnoli, Villa, Waack, Míriam Leitão. É uma lista enorme.

Não existe pensamento alternativo? Centro? Esquerda? Ou apenas isso está fora da mídia?

Os 56 milhões de eleitores de Dilma estão representados em algum colunista?

No Reino Unido, há uma resistência militante à intenção de Rupert Murdoch de comprar a BSkyB. O argumento é que a pluralidade de opiniões vai ficar abalada. Murdoch é um publisher de direita e com certeza fará guinar a cobertura política e econômica da Sky News. O assunto vai para a Ofcom, a entidade independente que fiscaliza a mídia no Reino Unido. A BBC já disse que é contra a compra.

No Brasil a pluralidade se perdeu faz tempo. Os resíduos de alternativa estão confinados em publicações menores, como a Carta Capital, que lamentavelmente parecem viver menos de seus próprios méritos e mais de gentilezas governamentais.

O mercado corrige?

É possível. Evidentemente há um espaço no Brasil para uma mídia que pense diferente. Em parte, isso já vem acontecendo na internet.

Quanto à mídia estabelecida, ou ela se dá um beliscão ou vai se condenar a falar apenas com a parcela da sociedade que já concorda com ela e não precisa de argumentos — e muito menos de tantos colunistas repetitivos — para ser persuadida de nada.