PM conta como foi espancado e torturado durante 8h por colegas: “Traumatizado”

Atualizado em 30 de abril de 2024 às 19:55
Danilo Martins (34) conta que levou socos e chutes em todas as partes do corpo durante 8 horas. Foto: Arquivo Pessoal

Soldado da Polícia Militar do Distrito Federal (PM-DF) desde 2020, Danilo Martins (34) foi espancado e torturado durante oito horas por colegas no último dia 22 de abril. Na ocasião, ele participou de um curso de formação do patrulhamento tático móvel do Batalhão de Choque (BPChoque) e acabou sendo internado por seis dias logo depois, sendo quatro deles na UTI (Unidade de terapia intensiva).

O caso gerou a prisão de 14 policiais militares, que foram alvo de uma operação da Corregedoria da corporação junto de integrantes da 3ª Promotoria de Justiça Militar do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT).

Martins relata que se inscreveu voluntariamente no curso para aprimorar habilidades na PM e foi abordado pelo tenente e pelo coordenador do curso ao se apresentar com os demais participantes. Na ocasião, os oficiais pediram para que ele assinasse um documento de desistência do curso e ameaçaram removê-lo da formação caso se recusasse.

“Eu me recusei, e foi a partir desse momento que os abusos começaram”, relata. Ele diz que foi obrigado a segurar um tronco de madeira enquanto outros agentes jogavam água nele. Os mandantes da tortura ainda afirmaram a outros soldados que quem ajudasse a vítima seria “desligado automaticamente”.

“Levei spray de pimenta no rosto e me fizeram assinar um documento, que dizia que eu me responsabilizava por futuras lesões. Depois, tudo piorou”, prossegue. Ele foi obrigado a correr ao redor do batalhão com o tronco na cabeça e cantar músicas vexatórias, se intitulando como “coach do fracasso” e “vergonha da família”.

“Enquanto eu gritava as frases que eles mandavam, era agredido com pauladas nas nádegas, panturrilha e costas. Depois, quando encerrou essa etapa, eu tive que fazer as flexões no solo de punho cerrado. Quando terminei, trouxeram britas e eu precisei fazer as flexões sobre elas. Jogaram mais gás de pimenta e começaram a me dar pauladas na cabeça”, conta.

Hematomas sofridos pelo soldado da PM durante o curso de formação. Foto: Arquivo Pessoal

O soldado afirma que durante as oito horas em que foi agredido e torturado sofreu pressão para que assinasse um documento de desligamento do curso. “Levei mais socos e chutes em todas as partes do meu corpo. Me obrigaram a carregar um sino que pesava em torno de 60 quilos. Enquanto carregava, jogavam mais gás de pimenta no meu rosto”, prossegue.

Martins conta que os oficiais pediram para que ele levantasse um cilindro de 80kg acima da cabeça e que voltou a apanhar, principalmente com socos no estômago, após não conseguir erguer o objeto. Ele acabou assinando o documento de desistência por não suportar mais as dores.

“Depois que eu assinei, eles comemoraram e fingiram que eram meus amigos. Começaram a conversar comigo normalmente e eu falei para o tenente que ele havia me lesionado. Fui pra casa sem ajuda de ninguém. Minha irmã, ao ver como eu estava, me levou para o hospital”, completa.

Martins foi diagnosticado com insuficiência renal, rabdomiólise grave (rompimento de uma fibra muscular que gera uma intoxicação no rim), ruptura no menisco, hérnia de disco, lesão na lombar e uma no cérebro, que tem afetado sua visão.

“Não consigo andar direito, minha visão está turva e falo com dificuldade, fora todos os machucados pelo corpo. Tem sido difícil dormir e comer. Estou traumatizado psicologicamente também”, diz Martins. Ele está afastado da PM por decisão médica e diz que não sabe se voltará á corporação quando se recuperar.

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